Aproveitando as comemorações de fim de ano, o programa Na Casa do Chef traz uma receita tradicionalíssima do Peru de Natal. O superlativo tem um bom motivo: o prato faz parte de uma das receitas do acervo de Elza Biancardini, a primeira banqueteira do Mato Grosso, falecida em abril deste ano.

Ou seja, mais do que uma receita, o preparo do prato é uma homenagem de Rodrigo Alexandre Azevedo Araujo à avó de sua esposa, que foi uma das responsáveis por despertar sua paixão pela cozinha.

No vídeo, que já está nas redes sociais do BigLar, o “’chef”’ da vez também lembra um pouco da história da banqueteira que serviu ao Papa João Paulo II quando esteve em Cuiabá, além de vários presidentes e toda a alta sociedade cuiabana da época.

Nosso convidado

O analista de sistemas que nasceu em Cuiabá e morou em São Paulo na década de 90 para estudar conta que tem uma rotina bem intensa de trabalho e é na culinária que encontra uma forma de relaxar e confraternizar com a família e amigos.

Diferentemente da temporada paulistana quando morava sozinho e tinha que “se virar”, hoje, para Araujo a palavra “cozinhar” remete a valores completamente diferentes como amor, harmonia, descontração e confraternização. “Reunir as pessoas que você ama ao redor de uma mesa para saborear algo que você preparou com amor, carinho e dedicação, não tem preço.”

Casado com Mariangela Biancardini, filha dos proprietários do restaurante Regionalíssimo, eleito a melhor culinária regional do Centro-Oeste pela revista Veja Comer e Beber 2017, Araujo revela que sua inspiração para o mundo gourmet tem influência direta da família da esposa. “Foi observando dona Elza e meu sogro Jean na cozinha que fui aprendendo e tomando gosto”, revela.

Além da influência dos Biancardini, ele destaca que, por ser fruto de uma grande miscigenação – seu bisavô paterno era um italiano que se casou com uma índia, e os bisavós maternos eram espanhóis – seu estilo na cozinha tem um toque bem contemporâneo. “Minhas especialidades são feijoada, carnes e massas. Gosto de preparar meu próprio nhoque, rondele, e por aí vai”. A família e os amigos agradecem. Pelo menos duas vezes por mês, ele a esposa recebem os amigos para uma confraternização gastronômica.

Como aprendeu o Peru de Natal?

Aprendi com a nossa saudosa avó Elza Biancardini. Nos finais de ano sempre ia na casa dela e observava o preparo do peru. Era um respeito muito grande pela gastronomia.

Ela revelou algum segredo de culinária para você?

Ela ensinou que a mesa posta, farta é feita com amor, une a família e os amigos. A comida fica com sabor de afeto, de aconchego. Seus almoços eram memoráveis, são doces e deliciosas lembranças. Minha filha passou a sua infância dentro da cozinha da bisavó e até aprendeu alguns truques da família, mas não conta pra ninguém. Hoje respeitamos o alimento e damos valor ao que ela sempre preservou: a família em torno da mesa. Continuamos os almoços agora na casa do meu sogro.

Você chegou a ajudá-la na preparação dos banquetes?

Quando me casei com Mariangela, dona Elza já tinha se aposentado das festas e banquetes. Nessa época ela cuidava apenas da cozinha do buffet e supervisionava tudo. Eu tive a oportunidade de aprender muito com ela e também com meu sogro Jean nas festas da sociedade mato-grossense e nas entregas de encomendas de final de ano. As pessoas adoravam o Peru Natalino. A cozinha da casa dela parecia a sala de estar, era lá que tudo acontecia. Fomos muito felizes lá.

A homenageada

Elza Fortunato Biancardini era filha de italiana e com sua mãe aprendeu a preciosa base da culinária italiana. Ela tinha outras habilidades também – sabia bordar como ninguém – mas sua grande paixão era a culinária.

Em 1975 transformou a paixão em negócio e abriu o Buffet Elza Biancardini. Apaixonada pela sua escolha, trabalhou durante 35 anos como banqueteira das festas mais importantes de Cuiabá nesse período. Sua gastronomia era inventiva. Criava decorações com frutas e pratos inesquecíveis como sua Torta de Bacalhau, Cascata de Camarão, Torta de Cebola, o seu famoso molho de tomates que levava mais de oito horas no fogo, além da inesquecível Torta Branca de Coco, que sua neta Millena continua preparando.

Adorava o carnaval, sempre foi muito alegre. Era uma pessoa muito generosa e querida por todos, fazia tudo pela sua família. Foi uma pessoa inspiradora, até os últimos dias de sua vida. Quando partiu, estava no lugar que ela mais gostava: sua cozinha.