Em homenagem ao Dia do Chef, entrevistamos Jéssica Trindade, a primeira mulher a integrar a equipe do francês Claude Troisgros

Ser chef de cozinha é ir além de apenas cozinhar. É liderar, atentar-se aos detalhes, desenvolver cardápios e muito mais. Criado pela Associação Brasileira da Alta Gastronomia (ABAGA) em 1999, o Dia Nacional do Chef de Cozinha é celebrado anualmente em 13 de maio para homenagear a arte da culinária no Brasil.

Para refletir sobre esse universo, conversamos com Jéssica Trindade, chef que comanda as panelas do Chez Claude no Rio de Janeiro, e foi a primeira mulher a integrar a equipe do francês Claude Troisgros, um dos grandes nomes da gastronomia brasileira.

Desbravando a gastronomia com Jéssica Trindade

Pode contar um pouco da sua trajetória? Como você chegou ao Grupo Troisgros?

Trindade: Comecei na gastronomia em 2005, quando ingressei na faculdade. Crescer e aprender na cozinha profissional era um sonho. Na primeira vez que entrei em uma cozinha industrial, fiquei emocionada. Nessa época, consegui uma vaga de cozinheira em um hotel, onde conheci um ex-funcionário do chef Claude. Enquanto ele me ensinava alguns pratos, eu perguntava sobre o chef e como era trabalhar com ele. Depois de algumas semanas, ele conseguiu uma entrevista de estágio para mim no antigo 66 Bistrô. Assim começou minha trajetória com a família Troisgros.

Como você se sentiu ao ser a primeira mulher a ingressar na cozinha de Claude Troisgros?

Trindade: Meu contrato de estágio tinha duração de 3 meses. Era o tempo que eu tinha para aprender o máximo que eu conseguisse. Anotava tudo! Entrava com os cozinheiros e só ia embora ao final da faxina. No final do contrato, fui convidada a fazer parte da equipe.
Era um sonho. Aliás, o primeiro deles que estava realizando. Eu era a única mulher na equipe da cozinha e, depois de muitas portas fechadas, entendi que toda dificuldade até ali valeu muito a pena.

Um momento que me marcou bastante nesses anos foi quando tive minha primeira filha e, logo após retornar ao trabalho, fui convidada para ser subchef do novo restaurante que inauguraria em alguns meses, o CT Boucherie. Lembro que depois do SIM, entrei na geladeira sozinha e chorei bastante.

Qual foi o maior desafio ao assumir o comando do Chez Claude?

Trindade: A mudança de cardápio um dia antes da inauguração. Foi um pouco desesperador, pois estávamos treinados e toda a “mise en place” [posto em ordem] pronta. Mas, trabalhar diretamente com o chef Claude é um desafio de crescimento e deu tudo certo! Cozinhar em uma cozinha aberta, olhando e cuidando dos clientes de perto, é o maior presente que um cozinheiro que ama muito a profissão pode ter.

Qual a diferença entre cozinhar em casa e no restaurante?

Trindade: O tempo. Em casa, você abre um vinho, coloca uma música e demora o tempo que quiser. É uma terapia. É ótimo também quando a família e os amigos cozinham para mim. No dia a dia da cozinha profissional, o ritmo é muito puxado. Tudo deve ser feito dentro de um tempo certo. É um balé bem sincronizado.

O que acha mais desafiador e mais gratificante na profissão?

Trindade: O maior desafio é a dedicação integral. Muitas vezes, não conseguimos participar de comemorações com família e amigos. São muitas horas, finais de semana e feriados. Praticamente todos trabalhando. Em contrapartida, é o presente de servir. Cuidar e amar através da comida. No Chez Claude, conseguimos ver a reação das pessoas em cada garfada. Esses momentos que marcam não têm preço para gente. Servir é o maior ato de amor e essa é a nossa maneira de amar: cozinhando.

Jéssica Trindade

Chef

“Comecei na gastronomia em 2005, quando ingressei na faculdade. Crescer e aprender na cozinha profissional era um sonho. Na primeira vez que entrei em uma cozinha industrial, fiquei emocionada.”

Qual dica você daria para quem quer atuar nessa área?

Trindade: Ame! É uma profissão de entrega e dedicação. Hoje em dia, a gastronomia está em alta, mas poucas pessoas aguentam a pressão do dia a dia. Não é fácil, mas só quem sente de verdade o que representa essa escolha, fica e não desiste. É amor puro!

Há algum chef brasileiro que marcou sua trajetória? Quais outros profissionais do Brasil você recomenda?

Trindade: Tive um chef, Christiano Ramalho, que me indicou ao cargo de subchef, função que ainda não existia no restaurante. A partir desse momento, as portas começaram a se abrir para mim. Tenho muita admiração e gratidão por ele. Sempre recomendo a Manu Buffara também. Ela é sensacional! Temos muitos chefs maravilhosos aqui no Brasil.

Qual foi seu maior aprendizado com Claude Troisgros?

Trindade: Humildade. Ele me ensina todos os dias.

O que foi mais marcante no seu encontro com o chef francês Paul Bocuse? Como esse momento impactou a sua vida e carreira?

Trindade: O chef Bocuse é um ícone que mudou a história da gastronomia mundial. Jantar ao seu lado, na mesa da cozinha, vendo o serviço acontecer, foi inesquecível!