Complexas, leves e aromáticas, as uvas pinot noir produzem um vinho elegante, delicado e muito saudável

Sedutores, complexos, sedosos e de personalidade marcante. Assim são descritos os vinhos produzidos com a uva Pinot Noir, uma das mais antigas castas do mundo. Acredita-se que esse tipo de uva já era cultivada na Borgonha, França, há aproximadamente dois mil anos, logo que os romanos chegaram naquela região. Porém, o primeiro registro de sua existência é de 1375. Famosa, esta cepa tem até uma data de celebração: em 18 de agosto comemora-se o Pinot Noir Day. 

“De cor avermelhada tendendo ao granada, é evidente a sinergia entre seu aroma, que traz em si frutas como morango, framboesa, cereja, perfumes florais e o seu sabor delicioso, que oferece as mesmas frutas encontradas nos aromas, envoltas em taninos macios e acidez pronunciada, o que torna o vinho da uva Pinot Noir altamente prazeroso e gastronômico”, explica Luiz Roberto Corrêa Lima, sommelier da Cave Noble BigLar. 

O consumo de vinhos Pinot Noir aumentou e virou moda em todo o mundo em 2004, após a exibição do filme “Sideways – Entre Umas e Outras”. Dirigido por Alexander Payne, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, o filme faz referência à uva Pinot Noir em um diálogo entre o aspirante a escritor Miles Raymond, personagem vivido pelo ator Paul Giamatti, com a atriz Virginia Madsen.

Durante a conversa, Miles revela toda a sua paixão por vinhos elaborados com a Pinot Noir: “Ela tem uma casca fina, é temperamental, amadurece cedo. Ela não é uma sobrevivente como a Cabernet, que cresce basicamente em qualquer lugar e floresce até mesmo quando é negligenciada. Não, a Pinot precisa de atenção e cuidado constante. Entende? Na verdade, ela só cresce em lugares bem pequenos, específicos, em alguns cantos do mundo. Só o mais paciente e carinhoso dos produtores consegue cultivá-la. Apenas quem realmente pega um tempo para tentar entender o verdadeiro potencial da Pinot pode persuadi-la a alcançar sua máxima expressão. E aí, ah, seus sabores… são os mais assombrosos, e brilhantes, e emocionantes, e sutis… e antigos do planeta”.

Uva tradicionalmente francesa

Atualmente, a uva Pinot Noir é cultivada em diversas partes do mundo, inclusive aqui na América do Sul. No entanto, sua origem é francesa. Esta uva, aliás, é uma das mais tradicionais da França, sendo considerada a mais elegante. É muito sensível às alterações de clima e de solo, podendo apresentar grandes variações entre safras e terroirs diferentes. 

Apresenta casca fina, que contribui para sabores mais delicados e uma coloração vermelha menos intensa. Seus aromas mais comuns são amora, cereja, framboesa, especiarias, flores e ervas. Em idade mais avançada, também apresenta toques animais, couro e cogumelos secos.

“Não é fácil definir um sabor típico de Pinot Noir. Afinal, esta é uma cepa que depende bastante do terroir do qual foi cultivada. A região mais importante de cultivo da Pinot Noir e produtora de grandes vinhos dessa uva, sem dúvida, é a Borgonha na França. Os grandes vinhos de Pinot Noir da Borgonha possuem produções muito pequenas sendo estrelas de primeira grandeza no cenário da viticultura mundial, por isso, são raridades disputadíssimas no mercado, a alcance de poucos pelos seus preços estratosféricos, como se fossem verdadeiras obras de arte. Entre esses ícones temos o mais famoso dos Grands Crus, originário do terroir de VosneRomanée, em Cotes de Nuits, o célebre Romanée Conti”, conta o sommelier. 

No mundo

Mais ao norte da Borgonha, em Champagne, a Pinot Noir exerce um papel fundamental para o sucesso do vinho espumante mais aclamado mundialmente, o Champagne. Ele, geralmente é elaborado com um blend das uvas tintas Pinot Noir e Pinot Meunier, com a branca Chardonnay. A Pinot Noir dá, ao blend dos champagnes, o corpo e a estrutura necessários e desejados a esse vinho espumante.

Fora da Borgonha, a região que se celebrizou por produzir grandes vinhos com a Pinot Noir é Martinbourough (Ilha Norte) na Nova Zelândia, com seus vinhos exuberantes, muito ao estilo borgonhês. Outra região de grande expressão e importância no trabalho com a Pinot Noir é a região de Oregon ao norte da Califórnia.

“As regiões mais frias do Chile, como o Vale de Casablanca, o Vale do Limari e o Vale de Leyda, também vêm se destacando como provedoras de ótimos vinhos com a Pinot Noir. Mendoza e a Patagonia na Argentina e também Walker Bay na África do Sul são regiões que vêm desenvolvendo vinhos excelentes com a Pinot Noir.

Aqui no Brasil, pelo fato de os bons Pinot Noirs serem vinhos delicados, com taninos macios, a procura por eles tem crescido, principalmente como porta de entrada aos novos consumidores de vinho, que preferem um Pinot Noir mais jovem. 

Harmonizações

O Pinot Noir é uma ótima opção para aqueles jantares em restaurantes em que cada amigo pede um prato diferente.

A uva Pinot Noir combina muito bem com pratos da comida francesa, e harmoniza também com presunto cozido, coelho com mostarda, vegetais cozidos, risotos, carne assada, atum ou salmão. Para quem gosta de queijos, o ideal é optar pelos de massa mole, como o comte.

Os vinhos com uvas Pinot Noir mais jovens, para consumo imediato, devem ser servidos em uma temperatura entre 14 e 16 °C, enquanto os mais longevos e complexos devem ser servidos a 18°C.