Com a criatividade dos brasileiros, o pastel saiu das feiras e pastelarias para ganhar o cardápio de restaurantes
Quem resiste a uma massa douradinha, bem crocante e recheada com queijo, carne ou frango com catupiry? O pastel é um dos quitutes preferidos do brasileiro, fazendo parte do cardápio nas mesas de bar, nos populares “mercadões”, e, claro, nas feiras, afinal, comer um pastelzinho acompanhado de caldo de cana é uma tradição.
Mas como e onde surgiu esta deliciosa e simples ideia de rechear uma massa e colocá-la para fritar? A origem do pastel é incerta. É possível tanto encontrar teorias de que a iguaria tenha um pezinho europeu quanto asiático. Alguns acadêmicos defendem que na Europa, na Idade Média, existiam diversas receitas de massas recheadas que eram levadas ao forno. A ideia de fritar esta massa teria surgido na Península Ibérica, no final deste período.
Porém, há também quem defenda que o pastel brasileiro, como é hoje, na verdade é derivado do Rolinho Primavera, típico da China, e do gyosa japonês, com a adaptação dos ingredientes que foram encontrados aqui. Independentemente se o precursor do pastel veio da culinária da Europa, China ou Japão, a popularização do querido salgado frito tem até um pouco de envolvimento histórico, visto que o mesmo começou a se disseminar por aqui no período da Segunda Guerra Mundial, na década de 40. Há relatos de que os imigrantes chineses, na verdade, já faziam pastel em São Paulo desde 1890, porém este comércio era discreto até o fim da Segunda Guerra, quando o Brasil passou a receber imigrantes em massa. São Paulo recebeu um contingente de refugiados japoneses, que se incorporaram às feiras.
Por conta da discriminação enfrentada por estes povos na época, devido ao fato de terem lutado pelo Eixo durante a guerra, ou seja, do lado adversário do Brasil, os japoneses se “camuflaram” aos chineses e tomaram conta das pastelarias, popularizando o salgado.
O pastel se tornou um símbolo gastronômico do estado de São Paulo, com o status de um dos alimentos mais consumidos na região, vendido tanto em feiras livres quanto em pastelarias, e os recheios de carne e queijo viraram clássicos. Na década de 50, o pastel também migrou para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e posteriormente para os estados da região sul do país. Desde então, é um alimento bastante enraizado aqui no Brasil, um dos quitutes mais apreciados, de norte a sul, com inovações nos formatos e sabores.
Para inovar
Os pastéis de carne, frango, queijo e pizza são presença constante nos estabelecimentos, mas a criatividade do brasileiro permite que esta gama de opções seja bem extensa. Embora seja uma receita relativamente simples e popular, o pastel pode até mesmo ganhar um teor mais gourmet, com recheios de frutos do mar, como camarão, siri e até polvo, e variados tipos de queijos, como brie, gorgonzola etc., alho-poró, diferentes molhos especiais, entre outros.
O público vegetariano também é bem servido, pois além do queijo, outras opções de recheios podem ser palmito, cogumelos, berinjela, entre outras. E claro que os amantes de doce não ficam de fora, sendo possível encontrar pastéis com recheios de chocolate, nutella, romeu e julieta, goiabada, e até mesmo de ingredientes regionais, como a banana, que é amplamente utilizada na culinária de Mato Grosso. Além dos sabores, outras inovações podem surgir na massa, que pode ser de mandioca, por exemplo, e, inclusive, nos formatos, que além da tradicional forma de retângulo, pode ser redonda, em meia lua, e até em formatos mais ousados, como de animais. Existem até mesmo versões de pastéis assados.
Tradição do pastel com DNA de Mato Grosso
A cidade mato-grossense de Jangada, a cerca de 80 Km de Cuiabá, é conhecida como “Capital do Pastel”, e já ganhou repercussão na mídia nacional quando, em 2019, bateu o recorde de maior pastel do Brasil, ao produzir o quitute com 1,74 cm e 15 Kg. A façanha foi realizada durante o Festival de Pastel, que movimenta a cidade e já é um evento consolidado no calendário cultural de Mato Grosso e atrai visitantes de outras cidades.
A relação estreita entre Jangada e o pastel começou na década de 1980. Na época, Jangada ainda era, praticamente, uma vila, porém, por estar nas margens da rodovia e servir de passagem para outras cidades, tinha grande potencial comercial. O segredo do pastel de Jangada está no recheio generoso, sendo os sabores tradicionais carne, carne com queijo – que tem bastante saída –, queijo, presunto, frango e palmito, e na massa que leva cerveja.