Bebida que é a “água da vida”‘ segundo antigo idioma falado na Escócia, tem diferentes versões e até mesmo grafias distintas ao redor do mundo
O uísque é uma das bebidas alcoólicas mais consumidas no mundo, retratado em filmes, músicas e livros, tendo o requinte e a sofisticação como seus principais símbolos. Os milhões de apreciadores da bebida têm até uma data especial reservada em comemoração ao Dia Mundial do Uísque: o terceiro sábado de maio, que este ano acontece no dia 21.
O uísque é, basicamente, uma bebida alcoólica destilada de cereais e envelhecida em barris, com o teor alcoólico variando de, no mínimo, 40% a no máximo 63,5%. O lugar de origem do uísque é tema de controvérsias, com a Escócia e a Irlanda encabeçando os debates.
Até a grafia utilizada nos dois países revela essa rixa. Na Irlanda – assim como nos Estados Unidos – escreve-se da maneira “whiskey”, enquanto na Escócia e em outros lugares como no restante do Reino Unido, Canadá e Japão o modo de se referir por escrito à bebida é “whisky”. Por aqui, o termo foi aportuguesado para “uísque” mesmo.
O nome surge do gaélico, antigo idioma falado na Escócia. Os escoceses, ao mencionarem a bebida, falavam “uisge beatha”, o que em tradução para o português significa a “água da vida”. A primeira menção à fabricação da bebida está em um documento de 1494. Nele, o frade John Cor, pertencente a uma ordem de beneditos próximos a Edimburgo, recebia uma autorização do fisco para a compra de mais de mil quilos de cevada maltada para que fosse feita a bebida, que seria oferecida ao Rei James IV. Surgia, assim, o que posteriormente seria chamado de scotch whisky.
Do outro lado do oceano
No século XVIII, imigrantes irlandeses e escoceses se mudaram para a América do Norte, levando a paixão pelo uísque na bagagem. No chamado “Novo Mundo”, começaram a utilizar grãos excedentes das colheitas na produção da bebida, o que criou uísques como o Bourbon (de milho), produzido no Kentucky, e o Rye Whiskey (de centeio), muito popular em Maryland, Pensilvânia e, sobretudo, no Canadá.
No século XX, foi a vez dos japoneses se destacarem. A bebida já era produzida na Terra do Sol Nascente pelo menos desde o fim do século anterior, mas ganhou um salto de qualidade com os conhecimentos do químico Masataka Taketsuru, que aprendeu o processo de destilação durante seus estudos na Escócia. Taketsuru foi então contratado por Shinjiro Torii, ajudando a tornar a Suntory a maior destilaria do Japão.
“Os uísques japoneses vêm se desenvolvendo de forma constante desde o século passado e, mais recentemente, conquistaram premiações importantes em concursos internacionais, adquirindo valor e se consolidando entre os melhores uísques do mundo. Podemos citar como exemplo o Hakushu e o Ichiro’s.”, explica o sommelier do BigLar, Luiz Roberto Correa Lima.
Aqui no Brasil, tudo indica que o primeiro lote de uísque escocês – cerca de 50 litros – aportou por volta de 1850, ainda na época do Império. De acordo com dados da Scotch Whisky Association (SWA), o Brasil é um dos principais mercados de uísque escocês na América Latina, com 82 milhões de garrafas importadas em 2021.
Principais tipos de uísque pelo mundo
Escocês: O termo Scotch é protegido por legislação e só pode ser usado para bebidas produzidas em território escocês. Os uísques escoceses utilizam grãos maltados ou cevada e são envelhecidos em barris de carvalho por três anos. Eles se dividem nas variações Single Malt (feito 100% com cereais maltados, como a cevada e leveduras, em uma única destilação), uísque de grão (milho ou trigo) e Blended Scotch (mistura de vários uísques de malte único e de grão).
Principais marcas: Johnnie Walker, Buchanan’s, The Macallan e Glenlivet
Irlandês: O Irish Whiskey caracteriza-se por ser destilado três vezes e ter uma mistura de cevada maltada, não maltada, centeio e trigo. Devido à tripla destilação, tem uma maior percentagem de álcool em comparação com o uísque escocês. O amadurecimento passa pelo repouso em carvalho por não menos do que quatro anos e o período de envelhecimento situa-se em torno dos 10 ou 15 anos.
Principais marcas: Jameson, Midleton, Cooley e Bushmills
Americano: O uísque americano mais conhecido é o Bourbon, um tipo feito de grãos maltados, sendo que, no mínimo, 51% deles devem ser milho. Outro estilo, o Tennessee possui um método de produção em que o processo de filtragem é em uma espécie de melaço, adicionando um sabor ainda mais adocicado. Já o Rye Whiskey, com seu sabor apimentado e frutado, leva em sua receita no mínimo 51% de centeio.
Principais marcas: Jack Daniel’s, Wild Turkey, Jim Bean e William Larue Weller
Dicas do Sommelier
Sommelier do BigLar, Luiz Roberto Correa Lima explica que a “maneira correta” de se apreciar um uísque está muito relacionada ao país e à sua cultura. Na Escócia, por exemplo, o hábito é consumir os uísques mais comuns, tipo os blend scotch whisky, em copos tipo Tumbler, que são cilíndricos e largos, com base de vidro bem sólida e capacidade em torno de 300 ml.
“Agora, se a degustação for de um uísque single malt, o copo correto é o do tipo Glencairn, que tem um formato parecido com as taças ISO para provas de vinho. Isso porque este formato proporciona um resultado eficaz na apreciação dos aromas”, revela Luiz Roberto.
Na eterna discussão sobre a utilização de gelo no uísque, o sommelier avalia que essa opção depende do tipo de uísque a ser apreciado. “No continente europeu, raramente se usa gelo. Mas quando o uísque é um single malt, é comum o uso de gotas de água para liberar aromas e diluir a potência do álcool. Já no Brasil, existe o hábito e a cultura do uso do gelo que, sem excesso, aumenta a complexidade aromática da bebida”, afirma.