Originário de povo nômade do norte africano, prato conta com inúmeras versões pelo Brasil

Poucos pratos apresentam tantas versões diferentes à mesa dos brasileiros como o cuscuz. No nosso país, o prato é feito à base de massa de farinha de milho, mandioca (aipim), polvilho ou arroz, com acompanhamentos diversos, como carnes, queijos, aves, peixes, legumes, na versão vegetariano/vegano ou até mesmo doce, para a sobremesa. Muito ligado à culinária do Nordeste, onde é amado pela população, o cuscuz, na verdade, faz sucesso em todo território nacional.

Há variações do cuscuz em flocos ou como farinha bem fininha. Já a forma de preparação não tem segredos: a sêmola é umedecida, cozida no vapor ou na cuscuzeira – a panela específica para este fim –, deixando o cuscuz com aquele formato de trapézio invertido e arredondado, servido com os acompanhamentos. O cuscuz é um alimento rico em carboidratos e uma ótima fonte de energia. É também rico em fibras, proteínas, cálcio e magnésio. Ao mesmo tempo que pode ser um aliado a uma dieta saudável e equilibrada, tem custo baixo.

À moda brasileira

O cuscuz já era popular em Portugal quando os colonizadores chegaram ao Brasil. Por aqui, a iguaria gastronômica se popularizou durante a fase colonial, muito presente na mesa de famílias mais pobres. Base da alimentação dos negros e preparado pelos escravos, era vendido em tabuleiros.

No Nordeste, ele integra refeições diárias, tendo como ingredientes preferidos o leite de coco, a manteiga, o queijo coalho e a carne de sol (charque). Há, ainda, a versão doce, que é comum entre os nordestinos no café da manhã, e também no Rio de Janeiro e na região Norte, onde é consumido com tapioca.

Já em regiões como o Sudeste, o cuscuz tem outras variações, principalmente em São Paulo. Em algumas receitas, a adaptação é feita com farinha de mandioca, substituindo, assim, o mais tradicional milho. O famoso cuscuz-paulista, geralmente, possui mais ingredientes, como tomate, palmito, milho, ervilha, bastante alho e cebola, com acompanhamentos que vão de sardinha e camarão à galinha. Com influências de indígenas e bandeirantes, a receita costuma ser servida fria. Há, ainda, o cuscuz à moda gaúcha, com linguiça, e à mineira, com bacon no recheio, muito parecido com o prato feito pelos paulistas.

Farinha de milho, uma das matérias-primas do cuscuz
Da África para o mundo

O mundo deu muitas voltas até que o cuscuz desembarcasse em nosso país. Pesquisas indicam que o prato já existia dois séculos antes de Cristo, na região do Maghreb, no norte do continente africano.

A origem do alimento é atribuída aos mouros berberes, um grupo nômade e que habita a região do deserto do Saara desde a pré-história. O primeiro registro escrito sobre cuscuz foi feito no século XIII, em um livro de cozinha magrebina. Em berbere, a palavra “k’seksu” vem do som do vapor na cuscuzeira durante o cozimento.

Já na Península Ibérica, região onde estão Espanha e Portugal, foi desenvolvido o chamado “cuscuz marroquino”, hoje em dia, definido como uma mistura da farinha ou sêmola do trigo, e logo incorporado à alimentação destes dois povos.

Outro país europeu em que o cuscuz é muito consumido pela população é a França, onde as primeiras referências ao prato são do século XVII. Em 2011, o cuscuz – ou coscous, como é chamado o prato pelos franceses – foi escolhido como o terceiro prato mais popular no país. O cuscuz também tem grande importância para os árabes, pois logo se espalhou pela região, em especial na Síria e na Palestina, sendo que neste último o prato foi modificado e é chamado de maftoul.