O gin tônica é revitalizado pela nova geração e ganha novos sabores
Um drinque refrescante e saboroso, com poucas calorias e perfeito para os dias quentes de verão. O gin tônica – ou G&T como tem sido rebatizado – cada vez mais tem conquistado os paladares com seu sabor seco e marcante, além de permitir inúmeras variações. A mistura da bebida alcoólica destilada com o refrigerante de gosto amargo, adicionado de gelo e especiarias, antes muito ligada a um público minoritário no Brasil, tem ganhado popularidade e está sempre presente em cardápios de bares e restaurantes, além das reuniões de amigos.
Essa presença marcante do drinque tem respaldo no crescimento da venda de gin. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o consumo desse destilado no país cresceu 111% nos anos de 2016 e 2017, e, de acordo com a consultoria Nielsen Scantrack, registrou-se um crescimento de 101,5% no volume de vendas de gin no país em 2020.
Segundo o experiente bartender Derivan Ferreira de Souza, essa redescoberta do drinque passa por um novo momento deste seu principal componente. “Quebrou-se toda uma regra universal de que o melhor gin seria o inglês a partir do momento que a bebida passa a ser fabricada com sucesso em todo o mundo. Continua havendo gins famosos, principalmente os standards, mas mesmo eles se reinventaram e, a partir daí, passaram a utilizar mais botânicos e algumas coisas especiais”, ressalta Derivan.
Da medicina para o drinque
Os dois principais ingredientes do gin tônica têm a curiosa origem na busca por tratamento de doenças. A criação da água tônica parte do descobrimento de sua principal substância, a quinina. Tudo indica que foram os índios peruanos os primeiros a utilizarem os poderes medicinais de uma árvore chamada Kina (nome indígena), muito presente na Amazônia. Já a água tônica como conhecemos surgiu na Índia, no período em que o país era colônia britânica. Inicialmente utilizada para combater a malária, a mistura de água gasosa com quinina foi levada para a Inglaterra e patenteada pelas fábricas de refrigerante, no ano de 1858. A quinina, ainda hoje, é empregada no tratamento da doença tropical, mas a água tônica, industrializada há muito tempo, não possui propriedades medicinais.
O gin foi criado em território holandês, quando em 1650, o médico e professor Franciscus (Sylvius) de la Boie pesquisava um diurético para amenizar dores renais. Nesse estudo, ele juntou o zimbro ao destilado de cereais e criou o que mais tarde seria conhecido como gin. O nome da bebida deriva da palavra zimbro, que em holandês é genever. O gin se popularizou rapidamente na Inglaterra com uma produção em grande escala, devido, principalmente, ao preço acessível e ao forte teor alcoólico. A bebida também era muito utilizada para espantar o frio, sendo uma grande aliada dos soldados que lutavam pela Europa na Guerra dos Trinta Anos.
Tatiana Bassi
Especialista em carnes
“Cada corte tem a sua peculiaridade e sabor, e esses (contrafilé, picanha, fraldinha e costela) são os mais tradicionais no churrasco, por terem características que propiciam a sua feitura na grelha”
A mistura das duas bebidas também foi motivada pelo combate à malária na Índia. Como a doença é transmitida por mosquitos, a ingestão da quinina pelos soldados ingleses tinha como objetivo afastar os mosquitos, uma vez que a substância exala um amargor na pele. O gosto muito amargo, no entanto, causava náuseas e vômitos, além de outros inúmeros efeitos colaterais, atacando o sistema digestivo e até o reprodutor. Naquela época, a água gaseificada com quinina devia ser utilizada com prudência, pois era muito concentrada.
Para que a proteção da malária por parte dos soldados tivesse menos efeitos colaterais e fosse possível disfarçar seu forte gosto amargo, os combatentes ingleses decidiram adicionar à água açúcar, limão-siciliano e gin. A mistura deu certo e, desse modo, nasceu a primeira versão de gin tônica como a conhecemos. Com os avanços da medicina, outros medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais surgiram, mas o drinque nunca mais saiu de circulação.
A reinvenção da bebida
Tradicionalmente, o drinque era apreciado em copos chamados de “long drinks”, longos e estreitos, completados com bastante gelo, 50 ml de gin e água tônica. Mas os espanhóis começaram a tomar seu gin tônica em copos grandes, do tipo Bordeaux ou Borgonha, trazendo, assim, uma nova forma de apreciar o gin tônica e colocando a Espanha no centro do mundo do gin.
Neste novo momento, o gin tônica ganha, ainda, a presença de diversos complementos, seja na preparação do drinque propriamente dito ou até mesmo na confecção do gin.
“Então a grande diferença de um G&T para um gin tônica clássico é que este se serve com as adições comuns e ele estará da mesma forma do início ao final, ou seja, nenhum ingrediente colocado nele vai interferir. Ao passo que, no G&T, que pode ter a presença de diversos complementos, essa bebida, com o passar de alguns minutos, começa a ter a característica daquilo que você utilizou na montagem de seu drinque, como o anis ou o pepino. Tomar um G&T é sempre uma grande experiência, porque você começa a tomar um drinque com uma característica, com um sabor e, à medida que você vai bebendo, ele vai evoluindo e emprestando algumas características diferenciadas”, explica o experiente bartender.
Essas mudanças todas refletem no modo como o gin é visto pelas novas gerações. Antes considerada uma bebida “terminal”, de bebedores costumazes de bares e restaurantes, de um tempo para cá, passou a ser considerada a “fonte da juventude”. “A Rainha-Mãe Elizabeth faleceu aos 102 anos e fez do gin uma grande bandeira da longevidade. A Rainha Elizabeth II, que também bebe uma dose de gin todos os dias, diz que o Príncipe Charles não herda o trono porque bebe cerveja”, completa Derivan com bom humor.