Nascida no Brasil e com fama internacional, a caipirinha é o drinque perfeito para ser apreciado em dias quentes e em momentos de descontração
À base de cachaça, a bebida alcoólica brasileira mais prestigiada da história, a caipirinha, é o drinque que é a cara do Brasil. Ideal para ser apreciada em festas, no verão, à beira da piscina, acompanhada de uma deliciosa feijoada ou no churrasco do fim de semana, a caipirinha é refrescante e saborosa e ganha atualizações de tempos em tempos, indo além da mistura de pinga, açúcar, limão e gelo que a consagrou como um símbolo nacional.
Não são apenas os brasileiros que gostam de se refrescar com o nosso tradicional drinque, pois, ao pisarem em solo nacional, os estrangeiros logo querem provar uma autêntica caipirinha. Por isso, não é de hoje que ela caiu nas graças dos bares, restaurantes e profissionais do ramo do mundo todo.
Desde 1995, a caipirinha faz parte da lista oficial de coquetéis internacionais da Associação Internacional de Barmen (IBA), sendo o único drinque de origem brasileira a integrar tal seleção ao lado de bebidas famosas como Dry Martini, Margarita e Cuba Libre. Isso garante que sua tradicional receita seja padrão ao ser preparada por um bartender associado, esteja ele em Nova Iorque, Paris, Tóquio ou São Paulo.
A bebida também tem registro oficial como um produto inerentemente brasileiro, desde 2003, com a padronização de sua receita prevista em lei, de acordo com o Decreto nº 6.871.
De onde surgiu?
A receita da caipirinha provavelmente não surgiu como a conhecemos, e nem se tem certeza da origem da bebida, com muitas versões circulando entre os acadêmicos que estudam a nossa cultura popular. Uma das histórias, defendida pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), coloca o interior “caipira” de São Paulo como o cenário da criação do drinque.
Sem defender uma cidade específica – diferentemente de outras versões que veremos –, os estudos da associação apontam para o ano 1918, momento do início da mais mortal pandemia do século XX: a gripe espanhola. A receita desse xarope caseiro, utilizado para combater o vírus, levava limão, alho, mel e um pouco de cachaça, algo comum usado na época para “acelerar” o efeito terapêutico do remédio. Logo aconteceram mudanças na receita: o alho e o mel foram retirados, o açúcar foi incluído para quebrar a acidez do limão e, mais tarde, o gelo foi adicionado a fim de combater o forte calor.
A cidade de Piracicaba, localizada no interior de São Paulo e a 155 quilômetros da capital paulista, é vista como o berço da caipirinha, segundo os estudos do historiador Luís da Câmara Cascudo. De acordo com o acadêmico, a caipirinha foi criada, durante o século XIX, pelos ricos fazendeiros, que a serviam em festas e reuniões da alta sociedade piracicabana. Com a forte cultura canavieira da região, a disponibilidade da cachaça não era um problema. Então eles viam no drinque um substituto local para bebidas estrangeiras, como o uísque e o vinho. Pelo baixo preço de seus ingredientes, a caipirinha logo caiu no gosto popular, tornando-se a bebida-símbolo paulista.
Uma das cidades mais importantes da produção de cachaça no Brasil desde o período colonial, a cidade de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, também reivindica o posto de criadora da caipirinha. Um documento de 1856 relata que a mistura que deu origem à bebida teria surgido por causa de uma epidemia de cólera na região. Entre os registros, está uma carta que apresenta uma receita que daria origem ao que chamamos atualmente de caipirinha.
Existe, ainda, uma quarta versão, pouco defendida por historiadores da bebida, que atribui a criação do drinque aos marinheiros que passavam pelo litoral brasileiro, mais especificamente no Rio de Janeiro. Eles teriam misturado limão a doses de cachaça para evitar o escorbuto, doença causada pela falta de ingestão de vitamina C. Essa tese foi apresentada no jornal paranaense Gazeta do Povo e apontaria sua origem anterior às outras versões.
além da receita tradicional
Nos últimos anos, com a caipirinha ganhando fama no mundo, outras receitas surgiram. Bebidas como a vodka, o saquê e até mesmo o vinho entraram no lugar da nossa cachaça, dando o nome a drinques como caipiroska, sakerinha e caipivinho. Em Cabo Verde, a caipirinha inspirou a criação de um drinque à base de grogue, uma espécie de rum muito consumida pela população do país africano.
O limão também ganhou substituições com a utilização de frutas, como morango, maracujá, coco, kiwi e outras. Em outros países, o tipo de limão utilizado no preparo do drinque é a lima (limão-siciliano), de casca amarela e grossa, ao contrário do Brasil, onde a bebida é preparada com o limão-taiti, de casca verde, bastante acidez e mais comum em
nosso país. O açúcar refinado, às vezes, também é substituído pelo açúcar mascavo.
A bebida Modernista
A Semana de Arte Moderna de 1922 seria o momento de grande difusão do drinque, antes restrito ao interior de São Paulo. Grande fã da caipirinha e uma das líderes do movimento artístico, Tarsila do Amaral levou a bebida para ser apreciada durante o evento.
Tarsila é nascida em Capivari, na região de Piracicaba, e tem inclusive um pintura com o nome de “A Caipirinha”, na qual retrata a sua infância em uma fazenda. Segundo os estudiosos, do salão da Semana de Arte, a caipirinha foi levada pelos outros artistas para seus estados de origem e, assim, popularizada em outros cantos do Brasil.
A literatura também já buscou a “recriação” da origem da bebida. Em seu livro “O Xangô de Baker Street”, Jô Soares apresenta como inventor da caipirinha o Dr. Watson, amigo de Sherlock Holmes, detetive inglês e personagem principal da publicação.