Principal fonte vinícola da Itália, região siciliana tem a favor terrenos férteis, verões intensos e produção modernizada

Sicília, a maior ilha do Mediterrâneo, localizada no extremo sul da Itália – em frente à ponta da bota, no mapa – carrega em seu nome aquela que é sua principal característica, a fertilidade. O termo Sicílio significa “terra da fertilidade”, como são as terras da Sicília. Lugar ensolarado, rodeado pelo mar, oferece belas paisagens, natureza vulcânica, com formação de águas termais e lama.

A ilha abriga ainda importantes tesouros arqueológicos e uma enorme herança artística e cultural, deixada pelos dominadores estrangeiros ao longo dos séculos. A Sicília é a maior e mais populosa ilha do mar Mediterrâneo – tem cerca de 5 milhões de habitantes. Passou por domínio sucessivo das civilizações fenícias, gregas, romanas, bizantinas, árabes e normandas, que deixaram na ilha fragmentos de sua cultura.

A origem da viticultura na Sicília foi justamente nesse período, por volta do século VIII a.C., quando os primeiros colonos gregos desembarcaram em sua costa, levando as vinhas. Ao lado de outras espécies nativas de vinhas, essas videiras floresceram na ilha, graças às condições microclimáticas extremamente favoráveis. Começava então a produção de vinhos na ilha.

Cratera Silvestri no Monte Etna

A produção de fermentados na Sicília atingiu seu ápice no século XVIII, quando os ingleses criaram o vinho Marsala. No entanto, os produtores sicilianos ainda eram coadjuvantes na produção de vinhos, sendo os italianos das regiões centrais e norte – toscanos, piemonteses e vênetos – a grande referência dos vinhos de qualidade do País.

Modernização

Recentemente, esse perfil mudou e a Sicília passou a ser reconhecida como produtora de vinhos de qualidade. Entre os rótulos de destaque da ilha estão o Palari Faro, Planeta Chardonnay e Feudi del Pisciotto Nero D’Avola. Essa revolução qualitativa aconteceu após a modernização das vinícolas, com o novo espírito empresarial e a vinda de investidores de outras regiões, como os grupos Marzotto Santa Margherita, Grupo Italiano Vini e Zonin.

Hoje a Sicília divide com a Puglia a posição de primeira região produtora da Itália. São cerca de 500 milhões de litros por ano. Com mais de 100 mil hectares plantados de videiras, a Sicília é a maior fonte de vinhos de toda a Itália. São 23 Denominação de Origem Controlada (DOC), 1 Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG – Cerasuolo di Vittoria – vinho tinto) e 7 Indicações Geográfica Típica.

Solo vulcânico

A ilha conta com áreas montanhosas e acidentadas, os solos da região italiana localizam-se em encostas com grande incidência de raios solares. Já o clima apresenta-se com verões intensos e baixa quantidade de chuva, o que torna a região ideal para que as videiras alcancem o ápice de sua qualidade. 

A cordilheira dos Apeninos percorre a Itália de norte a sul e aflora também na Sicília, dominando sua parte norte. Já a região meridional é mais baixa, com colinas áridas cobertas de vegetação rasteira e é necessário utilizar a irrigação para qualquer plantio. No lado leste, em torno do vulcão Etna, o solo é vulcânico, e é sobre este terreno que crescem os parreirais da região.

Na Sicília, o terroir propenso tem apresentado ao mercado vinhos intensos, concentrados e com explosão de fruta. Na parte oriental da ilha, concentra-se a produção dos tintos, com destaque para a região do vulcão Etna. É nesta região do entorno do Etna que atualmente estão plantadas, a mais de três mil metros de altitude, algumas das melhores vinhas da Itália. Na parte ocidental, nos entornos de Palermo, além da província de Trapani e Agrigento, dominam os vinhos brancos. Em Trapani, o vinho é muito concentrado de cor, potente e bem alcoólico.

A região de Trapani

A região central da ilha combina altitudes consideráveis com clima fresco, condições ótimas para o plantio, e seus solos mesclam a composição vulcânica com a argila e o calcário. De modo geral, as melhores vinhas se situam nas encostas mais frescas dos lados norte e leste.

A Sicília também se destaca, como em outras regiões italianas, pela quantidade e variedade de cepas A Nero d’Avola, que originam um dos tintos mais famosos e conhecidos do sul da Itália, dando origem a vinhos com aromas intensos. Há outras tintas de destaque, como a delicada Nerello Mascalese, da qual provêm vinhos leves e muito saborosos, e Capuccio e Frappato. Nas brancas, os vinhos de maior potencial e personalidade são elaborados com Catarrato, Inzolia, Grillo e Carricante. Já entre as variedades internacionais, destaque para a Shyrah, Merlot e Cabernet Sauvignon, entre as tintas, e a Chardonnay, entre as brancas.