Oriundo exclusivamente da região francesa de mesmo nome, o champagne é a perfeita representação do glamour e do luxo

Poucas são as bebidas que podem se vangloriar em levar no próprio nome a região em que é produzida, e este fator por si só representar seu atestado de qualidade. Saborear uma taça de champagne – escrito assim mesmo, com “gn” – é se transportar para a província histórica de Champagne, no nordeste da França, a 145 km de distância de Paris. A província é o único local no mundo em que a bebida de vinho espumante pode ser fabricada e ter gravada nos seus rótulos a mágica palavra “Champagne”, um selo de qualidade que torna este um produto inimitável.

Os tipos de taças certas são as veuve clicquot glass, esse formato potencializa as sensações aromáticas da bebida.

A região é, desde 2015, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, segundo declaração da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Existem em Champagne seis sub-regiões produtoras (Montagne de Reims, Vallée de la Marne, Côte des Blancs, Côte des Bar, Côte de Sézanne e Vitry-le-François), distribuídas em uma área de 34 mil hectares, uma das regiões de vinhedos na Europa com mais alta latitude. A produção do champagne está centrada em torno das cidades de Reims e Épernay, ambas localizadas em Vallée de la Marne.

Distintas por suas características diferenciadas de microclimas e solos, todas as sub-regiões produzem vinhos classificados pela AOC (denominação de origem controlada) única, Champagne. A AOC estabelece um conjunto de regras para plantação, viticultura, colheita, prensagem, etapas de elaboração e apresentação do produto. 

Champagne e suas regras

Isto significa que podem usar o nome de champagne apenas os vinhos feitos de uvas Pinot Noir, Pinot Meunier (tintas) e Chardonnay (branca), cultivadas dentro desta região delimitada e respeitando rigorosos métodos de produção, no caso o procedimento tradicional de fermentação dupla, o “método champenoise”. Esta receita consiste em uma segunda fermentação do blend de vinhos dentro da própria garrafa, fechada com uma tampa igual a de cerveja. Assim, cria-se um ambiente propício para as leveduras transformarem os açúcares das uvas em álcool e em dióxido de carbono, que irão se incorporar ao líquido.

O consórcio dos produtores de Champagne passou a atuar de modo mais intenso a partir da segunda metade do século XX, apesar da denominação de origem ter sido criada em 1927. Os objetivos eram basicamente fiscalizar e exigir o respeito à marca, o que proíbe a utilização do nome por produtores de outros países, e promovê-la, associando-a ao luxo e ao glamour de uma bebida única, tudo isso para manter uma percepção de alto nível e alcançar o mercado internacional. É necessário explicar que há espumantes produzidos em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil, mas apenas os que são fabricados em Champagne podem utilizar esta nomenclatura.

Província de Champagne, no nordeste da França

São vendidas, no mundo, mais de 300 milhões de garrafas de champagne por ano, alcançando assim um valor de vendas de cerca de 5 bilhões de euros. Sinônimo de bebida nas festas de fim de ano, especula-se que são servidas durante o Réveillon algo perto de 360 milhões de taças. Mas o Dia Mundial do Champagne não é 31 de dezembro, ao contrário do que possa parecer. Por decisão do Gabinete de Comunicação de Champagne, um órgão regulatório da bebida, o dia 28 de outubro é a data exata para comemorar a encantadora bebida. 

A bebida dos reis

A tradição da produção de vinhos em Champagne é antiga, do tempo que a região era parte do Império Romano, sendo que estes foram responsáveis pela plantação das primeiras videiras. A fama dos vinhos da região vem do fato de que em Reims foram coroados todos os reis da França, a partir de Clóvis, que foi banhado a vinhos na véspera de Natal do ano 496.

Rapidamente seu sucesso estendeu-se às elites aristocráticas de todo o mundo. Porém é necessário ressaltar que o champagne, como o conhecemos hoje, surgiu apenas por volta do século XVII. Os historiadores atribuem a criação ao monge beneditino Dom Pierre Pérignon (1638-1715). Morador da abadia de St. Pierre d’Hautvillers, o religioso de fato contribuiu com o desenvolvimento de técnicas como a delicada arte do assemblage – mescla de uvas na produção do champagne –, além de ser o primeiro a utilizar rolhas para substituir o broquelet (rolha de madeira cheia de cânhamo), o que permitia vedar com mais segurança as garrafas.

“A mistura dos vinhos-base de várias safras diferentes guardados nas caves subterrâneas é um dos principais segredos dos champagnes. Ela é feita pelo enólogo chef de cave, juntamente com sua equipe de enólogos, e eles têm a missão de fazer o blend perfeito para que, ano após ano, a identidade, a personalidade e o padrão de cada marca seja preservado. Isto mantém o estilo e o sabor característico, criando identificação e fidelização da marca junto ao consumidor”, explica o sommelier do BigLar, Luiz Roberto Correa Lima.