Famosa casta encontra no Valle del Maipo, região próxima à capital chilena Santiago, o clima perfeito para se desenvolver

Um dos maiores produtores de vinho do chamado “Novo Mundo” – países que ficam fora da “velha” Europa –, o Chile tem regiões vinícolas em praticamente todo os 756 mil km² do seu território, do Valle del Elqui, no Norte do país, ao Valle del Maleco, no Sul. Mas é nos arredores da capital Santiago que está aquela região que abriga o maior número de vinícolas do Chile.

O Valle del Maipo (ou em português, Vale do Maipo) faz parte do chamado Valle Central, sendo a única região vitivinícola do mundo que está ao redor de uma grande metrópole como Santiago e seus 5,6 milhões de habitantes. Algumas de suas vinícolas mais antigas funcionam desde a segunda metade do século XIX e o “terroir” – termo francês que une o solo e o microclima do local – da região é um dos melhores do mundo na produção da casta de uva Cabernet Sauvignon, a “rainha das uvas tintas”, que tem como origem Bordeaux, na França.

Valle del Maipo

O vale tem um clima que pode ser considerado mediterrâneo, pois é semiárido, gerando, assim, invernos frios com chuvas moderadas e verões quentes e secos. A oscilação térmica pode superar os 20 °C, com temperatura média anual de 13,9 °C. A média de precipitações varia entre 300 e 450 mm/ano; e as parreiras de uva estão plantadas em uma altitude de 1 mil a 500 metros.

“O vale nasce na região chamada de Alto Maipo, na encosta dos Andes, e acompanha o leito do rio em direção à Cordilheira da Costa, o chamado Baixo Maipo, sendo um corredor natural para as correntes frescas de vento vindas do Pacífico continente a dentro. Isso proporciona ótima amplitude térmica entre o dia e a noite, elemento climático muito importante para a obtenção de uvas saudáveis”, afirma o sommelier do BigLar, Luiz Roberto Corrêa Lima.

Germán Lyon

Enólogo da Perez Cruz

“Encontramos, no solo, bastante quantidade de pedras, cascalhos, areia e menores quantidades de argila. Esta é uma condição de solo que o Cabernet Sauvignon gosta muito”

  

Solo propício

Enólogo da Perez Cruz, uma das principais vinícolas do Maipo, Germán Lyon explica que, além do clima, o solo aluvial, formado por sedimentos de rochas trazidos por água e vento dos Andes, é primordial para a realização de vinhos tão especiais.

“Encontramos, no solo, bastante quantidade de pedras, cascalhos, areia e menores quantidades de argila. Esta é uma condição de solo que a Cabernet Sauvignon gosta muito”, analisa Lyon. Outras castas de uva encontradas na região são as tintas Carmenère (foi redescoberta nessa região), Merlot, Syrah, Cabernet Franc, e as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Semillón.

Afinal, como essas condições climáticas e geográficas se traduzem na bebida propriamente dita? O enólogo dá como exemplo as qualidades do “Pircas de Liguai”, rótulo da Perez Cruz. Um deles é o aroma de ervas, como menta, hortelã, alecrim, tomilho ou lavanda, existentes nos vinhos da região devido a uma molécula chamada vitispireno. “Esses traços são encontrados, em maior ou menor medida, a depender do ano da safra, do momento da colheita e também de seu envelhecimento em barril”, ressalta. 

Vinícolas Concha y Toro

As outras duas características dos vinhos do Maipo são o sabor sempre suave, aveludado e elegante, moído de um grão muito fino e de textura suave. “E também na boca vamos encontrar certo frescor, uma acidez muito equilibrada que está presente e que refresca muito bem”, explica o enólogo Lyon. 

Enoturismo pelo Maipo

Por ser a região vitivinícola mais próxima de Santiago, as vinícolas regionais do Valle del Maipo são as mais buscadas por turistas estrangeiros que querem conhecer os vinhedos chilenos. A Concha Y Toro está a seis quilômetros do centro de Santiago e geralmente é a primeira parada dos enoturistas. Por esse motivo, costuma contar com muita gente, principalmente nos meses de verão.

Seguindo por alguns quilômetros, há outras opções de vinícolas que podem ser visitadas a partir da Concha y Toro, como Almaviva, Don Melchor, Chadwick, além das Tarapaca e Undirraga. A vantagem é que o trajeto pode ser feito a pé, uma vez que estão muito próximas umas às outras.