Com alto consumo de vinho pela população e plantações espalhadas pelo país todo, Portugal se destaca por produzir variados tipos da bebida
A cultura do vinho é tão enraizada e antiga em Portugal que é impossível dissociar a bebida do cotidiano da população. O vinho está presente na vida do lusitano como acompanhamento nas refeições e nas comemorações, no enoturismo feito nas grandes Quintas (propriedades rurais), nas paisagens com videiras por todo o horizonte e, até mesmo, na literatura de mestres como Fernando Pessoa e Luís de Camões.
A visão dos portugueses de que o vinho é a bebida certa para todos os momentos faz com que lá seja o país com o maior consumo per capita no mundo, de acordo com um relatório de 2020 da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), que aponta que cada português consumiu, em média, 51,9 litros de vinho no ano. Isso é equivalente a, aproximadamente, 69 garrafas de 750 ml.
E o mais impressionante é que, por não ter um território muito extenso, Portugal é apenas o 11º produtor de vinhos do mundo e o 9º em relação à porcentagem de área plantada com videiras viníferas, o que não impede que o país se destaque. São mais de 250 uvas nativas, como as castas brancas Fernão Pires, Alvarinho, Encruzado e Arinto e as tintas Castelão, Baga, Trincadeira, Touriga Franca e Touriga Nacional, sendo, esta última, um símbolo da vinicultura lusitana e produzida nas 14 regiões vinícolas do país, que estão distribuídas por 31 Denominações de Origem Controlada (DOC).
Variedade de vinhos
De acordo com o sommelier Mário Marcio, do BigLar, Portugal oferece uma infinidade de rótulos das mais diversas regiões, com suas singularidades que refletem o terroir de cada região. Ele destaca os blends (mistura de uvas) e as características dos vinhos portugueses, que passeiam pelos frutados, elegantes, frescos, intensos, encorpados, licorosos e com paladar macio.
“A história da vinicultura portuguesa segue uma longa tradição, conquistando uma posição merecida. Por isso, e graças ao grande gosto dos produtores e apreciadores, os exemplares vindos do país lusitano se tornaram famosos no mundo todo”, ressalta o sommelier do BigLar.
“Indico o Vinho Porta da Ravessa Colheita Especial DOC Alentejo, elaborado com as uvas Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet. Possui uma cor intensa, aromas de frutos vermelhos bem envolvidos com notas sutis de especiarias frescas. Na boca é encorpado e aveludado, a sua frescura e elegância realçam o seu equilíbrio”, afirma Mario Marcio.
Mario Marcio
Sommelier do BigLar
“A história da vinicultura portuguesa segue uma longa tradição, conquistando uma posição merecida. Por isso, e graças ao grande gosto dos produtores e apreciadores, os exemplares vindos do país lusitano se tornaram famosos no mundo todo”
Douro e as montanhas do Norte
É no norte que está a maior denominação de origem controlada de todo o país. A região do Vinho Verde, que se estende por parte da costa do Atlântico, conta com mais de 34 mil hectares destinados às vinhas. Apesar do nome, o destaque por lá são os vinhos brancos de castas como Avesso, Loureiro e Azal.
É na parte norte também que está o Douro, conhecido mundialmente por ser o berço de produção do célebre vinho do Porto, o rótulo fortificado mais conhecido do mundo. Patrimônio mundial, segundo a Unesco, a denominação de origem do Douro é a mais antiga do mundo, com um terroir composto por montanhas que protegem o rio (que leva o mesmo nome) dos ventos do oceano, resultando em invernos muito frios e verões quentes e secos.
Já em Távora-Varosa, as estrelas são os espumantes, que no século XVII eram feitos pelos monges que habitavam essa área. Por fim, do norte do Douro até a divisa com a Espanha, está Trás-os-Montes, onde se destacam diversas castas brancas e tintas.
Lisboa e outras regiões do Centro
Chamada de “Borgonha portuguesa” e lar da Touriga Nacional, a região do Dão apresenta vinhos com acidez bem presente e aromas complexos. Essa foi a primeira região demarcada de vinhos não licorosos em Portugal, em 1908.
Nessa divisão, também está Lisboa, capital do país e localizada na costa oeste. Conhecida por tintos encorpados e brancos leves e aromáticos, a região – antigamente chamada de Estremadura – é subdividida em quatro DOC’s: Carcavelos, Colares, Bucelas e Arruda. A poucos quilômetros de distância e cortada pelo imponente rio de mesmo nome, está a região do Tejo, com um leque de castas que produzem vinhos tintos, brancos e roses dos mais diferentes estilos.
A Beira Interior é considerada a mais alta das regiões vinícolas de Portugal, e, como suas vizinhas, a produção por lá é variada, indo dos tintos aos espumantes. Localizada na costa do Oceano Atlântico, a Bairrada tem na casta Baga a principal de suas vinícolas, com 50% das uvas plantadas na região. Os espumantes se destacam, mas há também a produção de tintos e brancos.
As preciosidades do Sul
Maior produtora de vinhos de Portugal e dividida em oito sub-regiões, o Alentejo, assim como as outras áreas da região Sul, tem clima mais quente e menos chuvoso. Na maioria, os vinhos alentejanos são tintos encorpados, inclusive com o uso das castas estrangeiras Cabernet Sauvignon e Syrah. Já na faixa litorânea está a península de Setúbal, mais conhecida no mundo dos vinhos pela produção do Moscatel de Setúbal (branco) e do Moscatel Roxo (tinto), este último mais raro.
Mais ao sul, na parte continental, Algarve tem mais de 3 mil horas de sol por ano e uma grande diversidade de solos, o que resulta em vinhos macios, de pouca acidez e ligeiramente alcoólicos, com destaque para os tintos, brancos de cor palha e os licorosos.
Há, ainda, dois arquipélagos que são regiões importantes para o vinho de Portugal: Madeira e Açores. O primeiro, famoso por produzir o tipo de vinho exclusivo e que leva o nome do local, tem o terroir de solo vulcânico basáltico e a proximidade do mar como suas características determinantes. Já o Açores tem como destaque a Ilha do Pico, onde se faz um vinho licoroso branco a partir de uvas cultivadas em terrenos pedregosos.