Presença em nossas “memórias gustativas”, as comidas de “vó” revelam um sabor especial que somente as melhores recordações podem trazer

O carinho que temos pelos avós pode ser visto já no modo como a maioria de nós se refere a eles.  As formas “vó” e “vô” são algumas das primeiras sílabas que aprendemos a falar, e, com elas, carregamos, da infância para a vida inteira, algumas de nossas memórias mais antigas e afetuosas.

E o paladar tem muito a ver com essas recordações. Afinal, dificilmente quem teve a presença dos avós durante os anos de criança não tem uma comida que imediatamente recorde essa época e que somente a nossa avó sabia dar aquele toque especial. Essa é a chamada “memória gustativa”. Em resumo, é aquela sensação de nostalgia que aparece ao provarmos certos alimentos ou quando somos levados a recordações carinhosas e saudosas do nosso passado.

Em homenagem ao Dia dos Avós, comemorado em 26 de julho, o BigLar pediu para que os chefs de cozinha Fernanda Chueiri, Ana Carolina Manhozo, Daniella Boscov Reuter e Wal Untar consultassem o caderninho de receitas da memória e lembrassem para gente as deliciosas comidas e histórias de “vó”. Vamos entrar juntos nessa viagem no tempo?

Gostinho de lembranças

Receitas simples e inesquecíveis

Quanto mais simples e caseira, maior a certeza da comida de “vó” ser a mais saborosa que já experimentamos e que nunca mais haverá nada igual. “O pudim da “vó” Fina, minha avó materna, era muito bom. A minha família faz até hoje a mesma receita, mas sempre tem alguém que fala: ‘é o pudim da minha “vó”, mas não é igual, né?’ São receitas que tem toda uma memória afetiva ali também no momento do fazer. É isso que muda um pouco da receita”, explica a chef de cozinha Ana Carolina Manhozo.

Além do pudim, das fatias húngaras e do bolinho de chuva, “vó” Fina recebia a neta e os demais familiares em São Paulo com um quiabinho frito que também não sai da memória. Carol conta que já tentou reproduzir a receita e que quando a avó ainda estava viva, ficava ao lado do fogão para aprender, mas que com ela mesma “nunca ficou igual”. 

“Nem minha mãe, nem minhas tias conseguem deixar igual. Acho que é por causa da questão da lembrança mesmo”, afirma a chef.

Já as principais lembranças culinárias com a avó paterna, dona Cida, reafirmam a questão da simplicidade inesquecível que as comidas de “vó” carregam. “Toda vez que íamos visitá-la no final do ano ela fazia um fricassê de frango maravilhoso.  E também o bolo dela de chocolate. São coisas que marcam muito a gente”, completa Carol.

 

Das batatinhas à culinária búlgara 

Escolher a profissão a seguir nem sempre é uma tarefa fácil. No entanto, no caso da chef Daniella Boscov Reuter, o contato com as receitas de sua “vó” materna, Elda Mirta Garcia de Boscov, ainda na infância, foi fundamental para que ela optasse por esse caminho profissional na vida adulta.

“Amo cozinhar e para mim tem um significado superimportante falar sobre a minha avó na cozinha, pois “vó” Elda foi e é, até hoje, minha referência culinária, minha inspiração. Ela foi meu primeiro contato com minha profissão, sem nunca imaginarmos”, explica Daniella. 

A lista de “melhor comida do mundo todinho” aos olhos da neta incluem a lasanha do Popeye, batizada assim para convencer os netos a comer a massa feita de espinafre, o bife à milanesa e a batata frita, além de receitas de origem búlgara, como o drapanz, uma massa de pão frita, e o vareniki, uma massa cozida e recheada que pode levar molho branco – como na receita de dona Elda – ou molho ao sugo.

Gostinho de lembranças

Quibe nas férias em Uberlândia

Nascida em Cuiabá, mas de família mineira e ascendência síria, a chef de cozinha Fernanda Chueiri traz nas recordações das férias em Uberlândia (MG) suas mais antigas lembranças ao se interessar por cozinha. Ela conta que as receitas, passadas de geração em geração, eram a principal estrela das refeições diárias na casa da avó, e que esses momentos a fizeram abraçar a carreira de chef de cozinha há 18 anos, mesmo após se formar em Direito.