Incentivar as crianças a cozinharem é uma prática importante para estreitar laços familiares e promover mais contato dos pequenos com os alimentos
Criança e cozinha pode até parecer uma combinação inusitada, mas, na verdade, é superinteressante incluir os pequeninos no preparo das refeições. Além de ser uma valiosa experiência educacional e cognitiva, que pode enriquecer o desenvolvimento físico e mental, essa vivência também fortalece os laços familiares e aumenta o apreço da criançada pelos alimentos.
A cozinha é um espaço em que os laços familiares são incentivados e em que as tradições gastronômicas são passadas de gerações para gerações. Ainda, é um ambiente onde a arte de cozinhar e a riqueza dos alimentos desperta o interesse de muitas pessoas em relação ao extenso universo da gastronomia.
“A vida é mais gostosa e é mais saudável quando a gente faz comida juntos. Cozinhar juntos é uma forma de manter a família unida. E mais saudável”, afirma Dr. Jô Furlan, médico e nutrólogo com especialização em Nutrologia pela ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia.
Trazer as crianças para a cozinha é uma jornada rica de aprendizados, de conexões e de descobertas sensoriais. Pensando nisso, para comemorar o Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro, o BigLar convidou a chef Ariani Malouf e as crianças Khalil, 6 anos, Maria Virgínia, 4 anos, Enzo, 9 anos, e Mariana, 7 anos, para uma tarde de muita gastronomia e diversão.
Em meio à experiência, as crianças também aproveitaram para contar quais pratos mais gostam de fazer na cozinha. Mariana escolheu biscoitos e salada de frutas, Maria Virgínia revelou que adora preparar macarrão com molho, Enzo também foi de macarrão, e Khalil preferiu o strogonoff.
Também na ocasião, a chef trouxe algumas dicas de como inserir as crianças na cozinha, de quais receitas podem ser utilizadas (“Salada Arco-Íris”, “Mexidinho Kids” e “Creme souflé de chocolate”) e de como escolher os melhores alimentos para essa experiência gastronômica dos pequenos.
“Eles podem criar esse paladar para comer coisas saudáveis. Acho que tudo depende da forma como nós, papais e mamães, incentivamos. Acho que trazer as crianças para a cozinha, sem dúvida nenhuma, é uma forma [de fazer eles experimentarem alimentos saudáveis]. Acho que esse é um caminho”
Chef Ariani Malouf
O que as crianças podem preparar na cozinha?
As crianças podem participar de diferentes preparos, desde que contem com a supervisão adequada dos responsáveis. É interessante apostar em pratos mais saudáveis para incentivá-los a comer alimentos que façam bem para a saúde.
O nutrólogo Dr. Jô Furlan destaca: “Quando você traz uma criança para a beira do fogão, ensinando-a a manipular os alimentos, você começa a tirar aquela coisa do não gosto. Por quê? Porque existem muitas formas de fazermos coisas não tão palatáveis ou não tão artificiais que podem ficar extremamente saborosas”.
Para ilustrar a comemoração do Dia das Crianças, Ariani escolheu três receitas: duas salgadas e uma doce, que são superpráticas e podem ser utilizadas pelos pais que querem levar os filhos à cozinha.
Nos pratos com sal, ela optou por opções mais saudáveis, com verduras e legumes. “Eles podem criar esse paladar para comer coisas saudáveis. Acho que tudo depende da forma como nós, papais e mamães, incentivamos. Acho que trazer as crianças para a cozinha, sem dúvida nenhuma, é uma forma [de fazer eles experimentarem alimentos saudáveis]. Acho que esse é um caminho”, explica a chef.
As crianças que colocaram a mão na massa e fizeram a Salada Arco-Íris junto a Ariani – Khalil, Maria Virgínia, Enzo e Mariana – revelaram que adoraram o prato, inclusive as folhas (verduras) que fazem parte da receita.
Mas Ariani alerta que há outra maneira de incluir diferentes ingredientes e pratos na rotina alimentar dos pequenos. “Outro caminho é uma comidinha bem temperada. Acho que a comidinha bem temperada tem o seu lugar. E eu, como mãe, dou essa dica para [fazer com eles] desde bebezinhos. Aquela comidinha muito sem sal, às vezes, já cria ali uma certa repulsa da criança. A gente gosta de coisas bem-feitinhas e temperadas, e isso a gente já pode aprender desde pequeno”, fala.
A chef também deixa mais uma dica em relação ao preparo de pratos com a criançada: “Em cada receita que for preparar em casa, pensem nas texturas. [É legal] que tenha algo crocante, que tenha algo cremoso e que tenha um toque de acidez, porque a acidez ajuda a abrir o paladar, e isso não é só nos adultos, é no de todo mundo”.
Agora, sobre as escolhas dos ingredientes, ela indica: “Adoro mostrar para as crianças que tudo fresco é muito mais gostoso. Aquela parte do BigLar, das frutas e das verduras, é ali que a gente precisa se deliciar. Então deixe que o seu filho pegue os ingredientes e coloque no carrinho. Pule um pouquinho aquela parte dos enlatados e dos empacotados, e frisa mais na parte dos frescos. [Por exemplo] Todos os sucos podem ser feitos com frutas naturais. […] A gente pode descascar uma manga, cortar um maracujá e fazer os nossos próprios sucos, inclusive com a ajuda das crianças”.
“Cozinhar é uma arte. Mas é uma arte de fazer arte. […] É fazer da cozinha um local prazeroso, um local aconchegante onde todos podem trabalhar na construção de um almoço, de um jantar ou de um café da manhã.”
Dr. Jô Furlan, nutrólogo
Estreitando laços
Cozinhar com as crianças também é uma experiência que pode criar memórias preciosas, fortalecer os laços familiares e cultivar habilidades valiosas para a vida. “Minha mãe já dizia que cozinhar é uma das principais formas de dizer eu te amo. Cozinhar é uma magia, é um processo mágico de interação. Desde cedo eu faço isso com as minhas netas e com os filhos dos amigos e das amigas que vêm para minha casa […] É muito importante essa relação”, conta o Dr. Jô Furlan.
Segundo o nutrólogo: “Cozinhar é uma arte. Mas é uma arte de fazer arte. […] É fazer da cozinha um local prazeroso, um local aconchegante onde todos podem trabalhar na construção de um almoço, de um jantar ou de um café da manhã. Isso torna a relação familiar mais íntima, principalmente quando temos a concorrência dos aplicativos dos celulares hoje em dia, da televisão.
O Dr. Jô Furlan lembra que, desde cedo, sua mãe o ensinou a cozinhar e a limpar a casa para ajudá-la, porque ela enfrentava problemas de saúde. Esses ensinamentos foram muito importantes e mostraram a ele como era riquíssima a prática de preparar refeições em conjunto.
“Esse ato de cozinhar [é um] ato de amor, de relacionamento e de construção. Fazer uma refeição é construir alguma coisa e algo que a gente pode melhorar sempre. […] Minhas netas têm aproveitado bastante disso, eu lembro delas com três, quatro anos, modelando massa de pão comigo. Hoje, elas têm doze e [já] cozinham e eu fico muito feliz por isso”, compartilha com os leitores do BigLar.
Benefícios de ter as crianças na cozinha
São muitos os benefícios físicos e mentais de trazer as crianças para o preparo das refeições – seja no dia a dia ou em ocasiões especiais.
Essa atividade promove bons hábitos alimentares, incentiva relações interpessoais, ajuda na coordenação motora, coloca o pequeno em contato com quantidades (matemática) e com a leitura (das receitas), incrementa o vocabulário, estimula a sensação de responsabilidade, gera mais contato com alimentos saudáveis, desenvolve os sentidos (paladar, tato, audição, visão e olfato), incentiva a criatividade, entre muitos outros benefícios.
Cuidados na cozinha
É importante lembrar que a segurança deve sempre ser uma prioridade ao incluir crianças na cozinha. Por isso, garanta a supervisão adequada e também opte por atividades que são mais seguras para os pequeninos. Ariani Malouf também traz dicas sobre os cuidados que devem ser tomados.
Ariani conta que sempre convida seu filho Khalil para ajudá-la na cozinha, mesmo que seja para atividades mais simples. A chef comenta que há diversas maneiras de incluí-los nos preparos. “A cozinha é um ambiente que você tem que ter um certo cuidado, mas tem pequenas tarefas que as crianças podem ajudar e participar. Por exemplo, lavar e rasgar as hortaliças. Elas também podem ajudar a cortar alguma coisa que seja fácil [com uma faquinha sem ponta] e assim a gente promove uma atividade em família”, afirma.