Celebração que reúne amigos e familiares para saborear deliciosos banquetes, a ceia de natal reflete as diferentes culturas e sabores ao redor do mundo
Muitos são os símbolos que caracterizam o Natal e fazem a data ser amada por tantas pessoas ao redor do mundo. Decorações, luzes, músicas, trocas de presentes e de cartões colocam a celebração do nascimento de Jesus Cristo – motivo da comemoração, segundo a tradição religiosa cristã –, como um momento especial e aguardado por adultos e crianças de todas as idades.
Uma das tradições que não pode faltar na noite da véspera de Natal é a mesa da ceia. É nesse momento, no qual se reflete o espírito de generosidade, que amigos e familiares se reúnem em volta de um banquete caprichado, com fartura de pratos salgados e doces, além de bebidas. Em cada país, no entanto, o cardápio desse momento tem suas peculiaridades, refletindo a cultura, as crenças, as influências e os ingredientes disponíveis naquela região.
Origem do Natal e da ceia
A origem da celebração do Natal tem algumas versões. A mais aceita entre os historiadores dá créditos ao Papa Júlio I sobre o início da comemoração natalina na Europa. Estudioso do nascimento de Cristo, o sumo pontífice declarou 25 de dezembro como a data correta para a celebração, que começou a ocorrer por parte da igreja romana somente a partir do século IV (por volta do ano 350), no fim do período da Idade Média.
A escolha da data seria relacionada ao solstício de inverno. Esse dia, que acontece entre 21 e 22 de dezembro, é aquele com menor incidência de luz solar no ano na parte Norte do planeta, ou seja, com a noite mais longa do que o normal. A partir daquele momento do ano e com a maior presença do sol nos meses seguintes, os agricultores começavam as suas colheitas. Era como se houvesse uma virada das “trevas” para a “luz”.
O solstício era comemorado, especialmente, em duas festas pagãs muito conhecidas: a Saturnália (dedicada ao deus do tempo Saturno), e o aniversário de Mitra (divindade persa). Ambas são consideradas a origem do que viria a ser o Natal, e já haviam se espalhado por boa parte do continente europeu milhares de anos antes das celebrações natalinas.
Desde a celebração dos primeiros Natais com viés cristão, a preparação de grandes banquetes tornou-se tradicional. As pessoas promoviam uma boa ação, ao deixarem as moradias de portas abertas para que viajantes e peregrinos fossem recebidos nesta data tão significativa e, desse modo, confraternizassem com os donos da casa.
Europa e o Natal
Muitos ingredientes e costumes alimentares são bem particulares aos “Natais” ao redor do mundo. Esse verdadeiro universo é pouco explorado pelos brasileiros, que podem agregar novos sabores à ceia natalina. Berço das comemorações de Natal, a Europa é um exemplo de como cada país e região usualmente têm seus pratos típicos da festa.
Na França, as aves, peixes e carnes, assim como no Brasil, são o prato principal, sempre acompanhados de legumes. Os queijos, uma paixão francesa, costumam dar ainda mais sabor à festa. Já a sobremesa “oficial” do Natal francês é o bûche de Noël, um rocambole com massa de bolo recheada com chocolate, também muito apreciado na Bélgica.
A Alemanha tem na clássica dobradinha de salada de batatas e salsicha cozida, a vedete da festa de Natal e, segundo pesquisas, alcança 44% da preferência dos alemães. Assados como carnes bovinas, suínas e de ganso recheado também ganham espaço à mesa, assim como o raclette, um prato mais ligado à Suíça e que se trata do queijo derretido e servido com pães e batatas.
A carne assada é a responsável pela alegria dos holandeses. O principal e mais famoso prato da ceia na Holanda é o beef Wellington, um bife de filé revestido com patê e envolto em massa folhada. Para depois, os doces que costumam ser servidos são o kerststol (pão doce com frutas secas), o pepernoten (biscoitos de canela) e o banketstaaf (massa com amêndoas).
Os países da Escandinávia (região do Norte da Europa) apresentam tradições bem típicas da época. Na Dinamarca, a ceia é considerada o ponto alto da festa. Em ambientes iluminados por velas e figuras como duendes e elfos, a refeição é servida depois das 17h e o cardápio tem como prato principal o flæskesteg, um lombo de porco assado com torresmo e ameixas, acompanhado de batatas cozidas, batatas caramelizadas e repolho vermelho. Saborear o ris a l’amande, um tipo de arroz-doce feito com creme de leite, é uma regra no Natal de dinamarqueses e suecos.
Outros pratos típicos do Natal europeu são: kutiá (trigo cozido e mel, adicionado de nozes, passas e sementes de papoula), na Rússia; o peru recheado com trufas, na Espanha; a ciorba de perisoare (sopa de vegetais e almôndegas de carne de porco), na Romênia; frutos do mar, anchovas e moluscos (e torrone para a sobremesa), na Itália; costeletas de porco (ribbe), de cordeiro (pinnekjøtt) ou bacalhau, na Noruega; sopas na Grécia e um mix de vegetais na Bulgária.
Festa de Natal nas Américas
Os nossos vizinhos sul-americanos celebram o Natal cada um à sua maneira com seus pratos típicos. Na Argentina, a maioria das receitas são importadas da Itália. O preferido dos “hermanos” é o vitel toné (vitello tonnato), uma carne de vitela cortada coberta com um molho feito de anchovas, atum, maionese, creme de leite e alcaparras.
Já para os colombianos, o centro da ceia tem o aguardado pernil suíno com molho agridoce, além dos tamales, uma espécie de pamonha local, muito comum também em países da América Central, como El Salvador e Costa Rica. No Equador, a vedete do jantar natalino são os doces como o pristiños con miel de rapadura.
No México, a tradição é servir bacalhau a la vizcaína e peru assado (chamado de pavo ou guajolote), mas outros pratos como o romerito, feito de ervas preparadas com molho temperado, e a salada de maçã, também ganham o coração natalino dos mexicanos. Mais ao norte, no Canadá, é comum servir ganso recheado ou torta de carnes (tourtière) como prato principal e, na sobremesa, o destaque são os cinnamon rolls, rolinhos de canela e com calda à base de açúcar como cobertura.
Influência na ceia brasileira
O Natal brasileiro tem nos alimentos colocados à mesa um reflexo claro da nossa colonização europeia. Pratos portugueses, à base de bacalhau, como a bacalhoada e o bolinho de bacalhau, e doces como a rabanada não podem faltar na ceia noturna do dia 24 e nem no almoço do dia 25. Da Itália, foi mantido o costume de disponibilizar frutas secas e oleaginosas, como; nozes, amêndoas e avelãs. As frutas secas e cristalizadas também estão no recheio do panetone, ícone gastronômico italiano amado pelo povo brasileiro.
Um costume mais recente no banquete natalino brasileiro – da segunda metade do século XX –, o peru assado é uma herança dos norte-americanos. Por seu tamanho considerável, essa ave nativa da América do Norte simboliza a fartura e desde o início da colonização dos Estados Unidos e Canadá era servida como prato principal no Dia de Ação de Graças, feriado muito importante para os cidadãos desses países. No Reino Unido e em outras regiões europeias, a ave substituiu aos poucos cisnes e gansos, antes mais tradicionais na ceia.
Bebidas natalinas
O vinho e os espumantes são as bebidas mais tradicionais das festas de fim de ano no Brasil. Mas alguns países têm bebidas tradicionais – algumas alcoólicas e outras não – que são servidas nesta época. Nos Estados Unidos e Canadá, a bebida típica da ceia é a eggnog, um tipo de gemada feita com açúcar, leite, ovos e baunilha, além da adição de rum ou conhaque.
Já os mexicanos não economizam nos copos de ponche de frutas e sua variação ponche de huevos (que lembra o eggnog), e o atole de goiaba, esta última uma bebida quente de origem asteca. Quente também é a caneca de chocolate servida como acompanhante do pedaço de panetone no Natal dos peruanos. No Equador, a bebida da noite natalina é o canelazo quiteño (canela, açúcar, cravo e anis), no Chile, o cola de mono (café, leite, açúcar, cravo e aguardente), e na Argentina, o ananá fizz (drinque de abacaxi e cidra).
Os russos deixam a vodka de lado no Natal para celebrar com o vzvar, uma bebida preparada com frutas e bagas ao forno, enquanto na Finlândia, Dinamarca e Noruega a reunião de amigos e familiares pede o glogg, um vinho quente adicionado de amêndoas e passas de uva. Destaque, ainda, para a sangria, na Espanha, o bombardino, na Itália, e o hot toddy, na Irlanda.
outras ceias
Polônia: na véspera, são servidos pratos sem carne, iguaria apreciada somente no dia 25. A ceia começa com a partilha da oplatek (bolacha que remete à hóstia) molhada em mel;
Japão: mesmo com a maioria da população formada por xintoístas ou budistas, o Natal tem seu espaço entre os japoneses, que apreciam o peru assado e um bolo de creme com morango;
China: a ceia natalina é muito parecida com o jantar do Ano-Novo chinês e o cardápio pode incluir porco assado, frango, dumplings (bolinhos recheados) e sopa;
Etiópia: o prato principal é o doro wot, uma espécie de crepe, com guisado bem picante, que leva mais de 100 horas para fermentar e ficar pronto;
Índia: país com poucos cristãos, os indianos costumam saborear o arroz biryani com especiarias, seguido pela sobremesa chamada kheer, feito com leite de coco;
Ilhas Fiji: nessas ilhas do Pacífico Sul, o costume na véspera e no dia de Natal é cozinhar frango e porco em um forno de pedras fora de casa, chamado de “lovo”.