Um dos coquetéis mais queridos pelos brasileiros, o Moscow Mule tem uma história especial no Brasil, que está relacionada à sua clássica espuma
Saboroso, refrescante, tropical e fascinante: o Moscow Mule, tipicamente servido em uma caneca de cobre, é um dos drinks mais queridos pelos brasileiros por conta de seu sabor único, além de atrair apreciadores por seu charme especial devido à deliciosa espuma de gengibre que ‘finaliza’ o visual do coquetel. E para a surpresa de muitos: a receita mais popular da bebida no Brasil foi elaborada aqui no país pelas mãos do bartender Marcelo Serrano.
“Podemos dizer que é uma versão brasileira, pois o clássico drink, conhecido mundialmente, não leva a espuma [de gengibre], que foi criada por um brasileiro”, afirma Serrano ao BigLar. O bartender e idealizador dessa deliciosa ideia completa: “Não imaginava a proporção que esse drink tomaria. Era uma novidade para a coquetelaria do Brasil quando a versão foi lançada”.
Originalmente, o drink é feito com cerveja de gengibre, produto difícil de ser encontrado no Brasil. Por essa razão, Serrano criou uma adaptação para o ingrediente, e a bebida mais conhecida por aqui atualmente é a versão elaborada por ele. “Fui colocar um drink clássico no cardápio [de onde eu trabalhava], mas, na época, o Brasil não tinha a ginger beer [cerveja de gengibre], então pesquisando e testando, cheguei à espuma de gengibre”, revela.
Lançada há 13 anos, a versão da bebida com a espuma, que vai ao topo da caneca e é responsável pelo gostinho inconfundível de gengibre, continua entre uma das preferidas dos brasileiros. Mas, atualmente, existem diversas variações desse coquetel que é, de fato, muito versátil, como comenta Marcelo Serrano.
As opções favoritas do público brasileiro destacam-se pela presença das espumas em cima – que podem ser de muitos sabores. Quem aposta nessa versatilidade e em (muitas) combinações é a Mule Mule Muleria, primeiro bar paulistano especializado no drink, que traz uma variedade impressionante no cardápio. Por lá, há a possibilidade de experimentar espumas coloridas que são elaboradas a partir de outros ingredientes, como doce de leite, paçoca, caramelo e muito mais. “As variações são inúmeras hoje em dia, e eu [já cheguei até] a fazer uma de capim-limão”, conta Serrano.
Afinal, o Moscow Mule vem da Rússia?
Embora leve “Moscou” em seu nome, a bebida não é uma criação russa. Na verdade, ela surgiu nos Estados Unidos graças a uma fantástica jogada de marketing de três empreendedores: John Martin, Jack Morgan e Sophie Berezinski. O Moscow Mule é uma receita criada na badalada Los Angeles, durante o período da Guerra Fria, e, como adiantado, com uma história muito “marketeira” por trás.
Tudo começou com a inquietação de três empreendedores que estavam com estoques parados naquele período: John Martin era dono da distribuidora da Smirnoff (Rússia) nos EUA e tinha uma quantidade absurda de vodka parada devido à falta de aceitação norte-americana em relação à bebida russa por conta da Guerra Fria; Jack Morgan, proprietário de um bar em Hollywood, não conseguia vender as suas muitas garrafas de cerveja de gengibre, que também não era aceita pelo público; e Sophie Berezinski, herdeira de uma fábrica russa de canecas de cobre, tinha 2 mil unidades de seus produtos em um estoque sem saída.
Juntos, na década de 1940, eles se encontraram e compartilharam seus problemas mercadológicos. Foi então que os três empreendedores decidiram misturar a vodka e a cerveja de gengibre e servir essa bebida nas canecas de cobre – que garantiam a temperatura ideal, além de conferirem uma imagem mais sofisticada ao drink. Daí surgiu a primeira versão do Moscow Mule.
De fato, o nome foi escolhido como uma homenagem à Rússia, que era o país de origem da caneca e da Smirnoff. Além disso, os copos traziam o desenho de uma mula dando um coice, e, por essa razão, foi escolhida a combinação dos termos “Moscow” e “mule” para o coquetel. Gradualmente, os três empresários passaram a divulgar a receita de bar em bar nos Estados Unidos com a ajuda de uma câmera polaroid.
Feito apenas com vodka, cerveja de gengibre e suco de limão, o drink ganhou tamanha fama internacional por ser fácil e prático de ser preparado. Ainda, é claro, a combinação de sabor desses ingredientes tem um ótimo resultado. A receita original, portanto, é composta por 45 ml de Vodka Smirnoff; 120 ml de Ginger Beer (cerveja de gengibre) e 10 ml de suco de limão fresco. A bebida é sempre servida em uma caneca de cobre para que ela fique gelada por mais tempo.
De lá para cá, o coquetel se tornou um dos mais populares internacionalmente e é vendido em bares e restaurantes de todo o mundo. Isso também se deve muito ao fato de ser uma combinação versátil, que pode ganhar diferentes sabores e versões, como é o caso da própria espuma de gengibre popularizada entre os brasileiros.
E o Moscow Mule no Brasil?
No Brasil, onde é muito conhecido como “o drink da canequinha”, o Moscow Mule incorporou a prática da espuma criada por Marcelo Serrano para suprir a falta de cerveja de gengibre, que também garante um visual mais sofisticado ao drink.
Outra diferença em solo nacional também se dá na escolha da vodka, que é muito variada no país. Por aqui, os rótulos mais usados desse destilado são de procedência brasileira, mas também estadunidense, francesa, sueca, polonesa e, em alguns casos, russa.
Quem é Marcelo Serrano
Com grande experiência na área da coquetelaria, Marcelo Serrano começou a sua trajetória em Londres nos anos 2000 “por acaso”. “Eu era jogador de futebol profissional e estava tentando sucesso na Europa. Em virtude de uma cirurgia, parei de jogar e fui trabalhar em um bar. Por lá, fiquei quase 8 anos”, conta.
Em 2007, voltou ao Brasil e seguiu carreira enquanto mixologista. “Ganhei muitos prêmios, e o principal foi [devido ao] lançamento da releitura do Moscow Mule com espuma de gengibre, que depois de 13 anos ainda é um sucesso”, diz. Serrano já foi premiado pela VEJA São Paulo – Comer & Beber em 2010, 2011, 2013, 2014 e 2015; Prazeres da Mesa – Tramontina – Melhores do Ano em 2010 e 2011; e Revista Gula 2010, 2011, 2012 e 2015.