Com versões variadas e uma versatilidade impressionante, o pastel é uma iguaria carregada de histórias e tradições no Brasil

Ir à feira e saborear um pastel quentinho acompanhado de um copo de caldo de cana é um passeio irresistível, não é mesmo? A combinação desse quitute crocante com a refrescância dessa bebida típica proporciona uma experiência gastronômica única e deliciosa, que se tornou muito popular entre os brasileiros.
Com a sua massa fina, que pode ser recheada com uma infinidade de opções que vão do clássico carne com queijo às combinações mais inesperadas, o pastel é uma iguaria supertradicional e que ganhou espaço em todo canto do Brasil.
Além de ser crocante e muito saboroso, o pastel é um prato superversátil. Por conta da sua fácil adaptabilidade, esse quitute consegue agradar aos mais variados paladares. Mas, afinal, de onde vem essa delícia? Ela é realmente brasileira? Esta edição do Cultura no Prato apresenta as curiosidades da história e da origem deste símbolo da gastronomia do Brasil!

Fogazzas, uma espécie de pastel feito com massa de pizza

História rica e multicultural

A verdade é que não há uma história determinada sobre a origem exata desse alimento, embora existam algumas versões de como o Brasil teria recebido essa receita. De acordo com parte dos historiadores, o quitute como conhecemos chegou ao país por meio dos europeus ainda durante o período de colonização.
Segundo essas histórias, o pastel teria sido influenciado pelos portugueses, que trabalhavam com uma variação de massa frita, porém recheada com ingredientes doces, como o pastel de Belém. Outra possível influência seria dos italianos, que faziam suas deliciosas fogazzas, uma espécie de pastel feito com massa de pizza.
Contudo, a teoria mais aceita acerca do surgimento do pastel é a de que a iguaria teria se originado graças a receitas advindas da Ásia. O pastel japonês e o rolinho primavera chinês (harumaki) seriam os “ancestrais” e os responsáveis pela origem do quitute tipicamente brasileiro.
A história do pastel de feira no Brasil está, de fato, ligada à imigração japonesa e chinesa em território brasileiro. Segundo registros e relatos, por volta de 1890, os imigrantes chineses vendiam rolinhos primavera no país, mas de uma maneira adaptada, com uso de uma massa fina e recheios variados – como de carne moída, por exemplo -, a fim de agradar à população local.
Mas a popularização do pastel vem depois. Durante a década de 1940, no período da Segunda Guerra Mundial, japoneses chegaram ao país, apoiaram-se na receita desenvolvida pelos chineses, e tiveram um papel significativo para o sucesso do alimento, que começou a ser transformado por influências locais, já assumindo algumas das características que conhecemos hoje.
No Brasil, os japoneses passaram a montar pastelarias para sobreviver e se disfarçar durante a Segunda Guerra, e eles foram adaptando versões para que a receita agradasse imigrantes e brasileiros. Inicialmente, o prato se destacou em Santos, que é o berço da cultura nipônica no Brasil. Mas não demorou muito para o alimento chegar à cidade de São Paulo e a outras cidades paulistas. Posteriormente, o pastel conquistou o Brasil!

Caldo de cana com pastel de feira

Uma longa tradição

A combinação do pastel com o caldo de cana é um clássico brasileiro! Os dois “se encontraram” no Brasil e se tornaram inseparáveis. Hoje em dia, são destaques e estão presentes em feiras livres, praias e “mercadões”’ de todo o país. Essa dupla perfeita une sabor e tradição!
Mas os dois começaram a ser consumidos juntos por acaso. Foi nas feiras de rua que o caldo de cana e o pastel se juntaram – e se tornaram um símbolo da cultura do Brasil. Enquanto se consolidavam entre os brasileiros, os imigrantes japoneses passaram a levar seus pastéis para as feiras com o objetivo de ter uma relação direta com os clientes, no mesmo período em que o caldo de cana também passa a se destacar nesses espaços.
Vale lembrar que a cana-de-açúcar, introduzida pelos portugueses no século XVI, deu origem ao caldo de cana. De início, a bebida era consumida pelos trabalhadores das plantações, e os próprios senhores de engenho, durante a moagem da cana, ofereciam o líquido a eles.
Ao longo do tempo, o caldo de cana se popularizou significativamente e ganhou espaço nas feiras de rua, onde passou a ser muito consumido. No Brasil, existem feiras livres desde o tempo da colonização, visto que esta é uma prática trazida pelos portugueses. Os “mercados francos”, como eram inicialmente chamados, foram regulamentados e, em 25 de agosto de 1941, aconteceu a primeira feira livre moderna do país, em São Paulo, no padrão em que conhecemos hoje.
O sabor salgado e crocante do pastel harmoniza-se com a doçura natural e refrescante do caldo de cana. Por conta da sua combinação certeira, a dupla está presente na cultura brasileira há décadas, e essa tradição é passada de geração para geração.

Harumaki é a versão japonesa dos rolinhos primavera

Evolução do pastel no Brasil

A massa, geralmente feita de farinha de trigo, água, sal e uma pequena quantidade de cachaça ou vinagre para garantir crocância, é complementada com diversos ingredientes. Os recheios mais comuns incluem carne moída, queijo, frango e palmito, mas há inúmeras variações, incluindo opções doces, e com elementos diferenciados, como camarão e bacalhau.
A criatividade dos brasileiros influencia fortemente na grande variedade que temos hoje no país. Um exemplo de adaptação é o pastel gourmet, que mantém a essência da receita tradicional, mas introduz recheios exclusivos com combinações inusitadas (como queijo brie com mel, alho-poró e cream cheese, etc.).
Com suas particularidades, sua crocância e seu sabor, o pastel não é apenas um quitute amado nacionalmente, mas ele é parte da história e da cultura brasileira e um símbolo que reverbera as tantas influências que a gastronomia do Brasil recebeu.

No Brasil, os pastéis ganharam versões gourmet