Nascida na região francesa da Borgonha e uma das cepas oficiais de Champagne a Pinot Noir é uma uva delicada que garante rótulos de qualidade
Ao apreciar uma taça de vinho produzido a partir da cepa Pinot Noir, poucas dúvidas restam que ali está uma bebida realmente especial. Casta de uva reconhecida por resultar em algumas das bebidas mais elegantes da produção vitivinícola mundial, da plantação à colheita, ela requer inúmeros cuidados. No entanto, dali são garantidos rótulos que possuem características próprias que os diferenciam dos demais.
A começar pelos traços singulares da Pinot Noir, é que as uvas roxas e escuras, que costumam originar vinhos complexos e intensos em outras cepas tintas, na verdade são responsáveis por bebidas de coloração translúcida, algo próximo a um tom vermelho claro. Isso se deve pela casca fina e delicada.
Seus poucos taninos – substância natural da videira – resultam em vinhos frescos e mais “fáceis” de beber, pois são considerados equilibrados, em que nada é excessivo ou se sobressai. Mas nem por isso são vinhos “menos sofisticados” que os encorpados e complexos Cabernet Sauvignon, por exemplo. Em virtude do sabor marcante, em vinhos tintos elas raramente são mescladas a outras uvas, os chamados blends, pois nessa união ela pode “roubar” as características da outra.
No quesito aroma, os vinhos de Pinot Noir também surpreendem. Uma combinação perfeita e deliciosa de frutas vermelhas frescas, como: morango, cereja, framboesa e amora, além de toques de flores, como violeta e rosa, e de nuances terrosas, lembrando cogumelos, cenouras e folhas molhadas.
O fato de ela ser uma cepa de cor escura, mas com aspectos mais delicados, característica essa geralmente mais ligada às uvas de casca clara, faz ela ser conhecida como “a uva tinta mais branca”.“Quando bem conduzida e plantada em terroir propício, a Pinot Noir proporciona vinhos bem estruturados, longevos, com personalidade, leveza e complexidade”, afirma Luiz Roberto Corrêa Lima, sommelier da Cave Noble BigLar.
Da Borgonha e com sabor de Champagne
A Pinot Noir, ao lado da Chardonnay e Pinot Meunier, é considerada uma das cepas oficiais da denominação de origem (AOC) de Champagne, província histórica responsável pela bebida espumante mais consumida no mundo. Mas é na região de Borgonha, também na França, que está o berço dessa casta. Apesar de seu primeiro registro oficial ser do ano de 1375, estudos apontam que ela é cultivada na região há, pelo menos, dois mil anos, com fragmentos datados do século IV a.C.
De acordo com Luiz Roberto, é na Borgonha, com a qualidade desenvolvida das uvas de Pinot Noir, que se vê surgir o conceito de “terroir”, termo do universo vitivinícola que abrange tudo que envolve o desenvolvimento de um vinhedo, como solo, clima, localização, cultura e tecnologia.
“Há dois milênios, os romanos ocuparam a Borgonha e plantaram vinhedos. Dez séculos depois, os monges católicos cistercienses (ordem religiosa beneditina) tomaram posse da Borgonha desenvolvendo a viticultura no local, especialmente nas terras conhecidas como Clos de Vougeot. Com experimentos de cultivos, criaram o conceito de ‘climats’, onde eles perceberam que vinhos elaborados com uvas de certas parcelas atingiam qualidade excepcional”, explica o sommelier.
Não deixe de provar
1 – Humberto Canale Old Vineyard Pinot Noir
2 – Perro Callejero Pinot Noir
3 – Trentham Estate Pinot Noir
4 – Old Soul Pinot Noir
5 – Montes Alpha Pinot Noir
6 – Georges Duboeuf Pinot Noir
7 – Poulet Peres&Fils Nuits Saint Georges
Pinot Noir emoutras regiões
A Borgonha é a casa da Pinot Noir e onde estão grande parte de seus vinhedos, porém hoje em dia é possível degustar rótulos incríveis de outros países do mundo. Na Europa, Itália, Suíça e Alemanha também se destacam na produção, enquanto no “Novo Mundo” do vinho, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Chile e Argentina garantem bebidas que nada ficam a dever às produzidas em solo francês.
O Brasil também tem destaque entre os produtores de Pinot Noir, apesar das dificuldades para seu cultivo em nosso terroir de clima instável. Plantada no sul do país desde a década de 1970, a casta é muito utilizada para a elaboração de espumantes, pois confere corpo à bebida. Luiz Roberto dá como exemplo no país, em relação ao cultivo de Pinot Noir, a região de Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha. Essa, inclusive, é a segunda região demarcada a conquistar Indicação de Procedência (IP) no Brasil.
“Um projeto muito bem trabalhado em Pinto Bandeira iniciado pela Cave Geisse, denota claramente o conceito do terroir. Neste local, a Pinot Noir no Brasil atingiu sua plenitude, sendo base para grandes vinhos efervescentes produzidos pela Cave Geisse. E mais recentemente podemos provar o Aurora Pinto Bandeira Pinot Noir, um vinho delicioso que confirma a qualidade e característica dessa emblemática uva”, ressalta o sommelier.
Harmonização com pinot noir
Os vinhos de Pinot Noir demonstram uma notável versatilidade quando se trata de harmonização. Suas notas sutis tornam os vinhos desta cepa ideais para iniciantes no mundo dos vinhos e que desejam apreciar plenamente um jantar especial. A uva Pinot Noir harmoniza perfeitamente com carnes de aves, suína, bovina e salmão (no caso do Pinot mais leve), além de combinar maravilhosamente bem com frutos do mar, pratos à base de creme e sopas, massas com molhos mais leves e vegetais. Fãs da culinária francesa podem aproveitar o “sotaque” borgonhês da Pinot Noir para harmonizar a bebida com pratos clássicos. Receitas como coq au vin (galo no vinho), coelho com mostarda, presuntos cozidos e o clássico dos clássicos, o boeuf bourguignon (carne cozida com legumes no vinho), fazem combinações saborosas.