Termo surgido nas vinícolas espanholas para dar prestígio aos rótulos, os vinhos “Reserva” são sinônimos de primeira classe

O mundo dos vinhos está repleto de termos e classificações que ajudam a identificar a qualidade e o estilo de diferentes rótulos. Da Denominação de Origem Controlada (DOC), um selo encontrado nas bebidas produzidas em determinados países e regiões da Europa, ao Estate Bottled, mais ligado aos vinhedos estadunidenses, muitos desses termos estão associados a tradições específicas e indicam desde o método de produção até o envelhecimento e a seleção das uvas.

Largamente difundida como sinônimo de boas bebidas, a expressão “Reserva” encontrada no rótulos de vinhos, surgiu na Espanha, mas hoje está espalhada por vários países com tradição vinícola. A ideia dos produtores espanhóis era identificar vinhos que passaram por um período de envelhecimento em barricas de carvalho e em garrafas, resultando em maior qualidade e complexidade de aromas e sabores. “Essa classificação remonta às práticas tradicionais das vinícolas, em que os produtores separavam as melhores safras ou lotes de vinho para consumo próprio ou vendas especiais”, explica o sommelier do BigLar, Valdeir Junior.

Corredor de adega com barris de carvalho empilhados em ambos os lados, teto rústico com tubulações aparentes e iluminação suave, criando um ambiente tradicional e aconchegante.

Complexidade para os vinhos

A passagem – também chamada de amadurecimento – por barris de carvalho (uma madeira retirada da árvore de mesmo nome, muito comum no Hemisfério Norte), é extremamente importante para o desenvolvimento da complexidade do vinho. Isso acontece porque o carvalho contém componentes que se dissolvem na bebida durante o envelhecimento, conferindo novos aromas e sabores.

“Alguns desses compostos, como por exemplo a vanilina, dão notas de baunilha, enquanto as lactonas contribuem com aromas de coco ou amêndoa. Outro fator é a porosidade da madeira, em que uma vez que o vinho está amadurecendo, essa textura proporciona uma micro-oxigenação ao líquido, que tem como resultado taninos mais macios e redondos, aumentando a estrutura e a complexidade dos vinhos”, aponta o sommelier.

Da Espanha para o mundo

O termo reserva ganhou o mundo com ressignificações pontuais em cada um dos países. Na Espanha, onde a denominação apareceu, um vinho reserva tem tempo de envelhecimento total de 36 meses na vinícola, sendo no mínimo 12 meses na barrica em se tratando de vinhos tintos. Já os brancos e rosés, para ganharem o selo, precisam de um envelhecimento de 24 meses e ao menos seis na barrica.

Outras distinções para os vinhos espanhóis são o Crianza, com envelhecimento de 24 meses na vinícola, sendo no mínimo seis meses na barrica para os tintos, e 18 meses e mínimo de seis meses no barril para os brancos e rosés. Já o Gran Reserva é o selo de qualidade dado para os tintos quando estes têm envelhecimento total de 60 meses na vinícola, com no mínimo 18 meses na barrica, e para os brancos e rosés, com total de 48 meses de envelhecimento, com seis meses de passagem por barril.

Veja ainda como é esse processos de vinhos reserva em outros países:

Itália: as regras do tempo de maturação variam de acordo com as Denominações de Origem. Em linhas gerais, na Itália os tintos com selo reserva passam por envelhecimento de dois anos antes de serem liberados, os brancos um ano de envelhecimento e os espumantes cinco anos de maturação. Algumas denominações famosas possuem regras diferentes, como por exemplo o Chianti Clássico Riserva (24 meses) e o Brunello di Montalcino Riserva (60 meses).

Portugal: a nomenclatura é amplamente utilizada, mas seus significados e regras de tempo de maturação variam dependendo da região. Os tintos geralmente requerem pelo menos 12 meses de maturação, combinando o tempo em barrica e na própria garrafa. Para os vinhos brancos, o tempo de maturação é menor, entre 6 e 12 meses (dependendo da região), e para os espumantes 12 meses de maturação.

Chile: o termo reserva não possui regulamentação legal, mas é amplamente utilizado como uma indicação de qualidade. O vinho reserva geralmente possuí algum contato com a madeira. Considerando que o uso da madeira agrega custo à produção, essa prática tende acompanhar a atual realidade de preços de mercado dos vinhos chilenos com a nomenclatura “Reserva” que são preços acessíveis, então, para diminuírem custos, os produtores adicionam aduelas ou chips de madeira em tanques de aço inox, compram barricas usadas, ou estagiam parcialmente seus vinhos em barricas novas, conferindo ao termo reserva o “status” de um vinho superior.

Argentina: a regulamentação prevê que os tintos devem ser envelhecidos por, no mínimo, 12 meses antes de serem comercializados. Parte desse tempo costuma ser em barricas de carvalho (não obrigatório, mas é comum seu uso), enquanto brancos e rosés devem envelhecer no mínimo por seis meses antes da comercialização, com um estágio curto em barricas, tanques de inox ou cubas de concreto para preservar o frescor.

Brasil: tintos reserva nacionais passam por um período de 12 meses de maturação, que pode ser uma combinação de envelhecimento em barricas de carvalho e tempo em garrafa. Para brancos e rosés, o previsto é um tempo de maturação de seis meses, podendo ou não passar por estágio em madeira, a depender do estilo.