Presente em 85% da área de cultivo de uvas na região espanhola de La Rioja, a Tempranillo transcendeu fronteiras com seus vinhos tintos marcantes e encorpados

Os principais países do Velho Mundo do vinho contam com algumas uvas que simbolizam a qualidade e sofisticação dos rótulos produzidos por eles há séculos. Se na França a Cabernet Sauvignon é a “rainha das uvas tintas”, e na Itália a Sangiovese é a “joia da Toscana”, as vinícolas da Espanha também tem uma uva para chamar de sua.  Reconhecida por elaborar vinhos tintos marcantes e robustos, a uva Tempranillo faz parte da cultura vinícola espanhola de maneira significativa e não é de hoje.

Historiadores apontam que as primeiras videiras foram levadas para a Península Ibérica, mais exatamente para a região de Cádiz, no Sul da Espanha, a cerca de 3 mil anos pelos fenícios (que viviam no Norte do continente africano). No entanto, foi nos vales do Norte espanhol, mais exatamente na região de La Rioja, mais antiga e principal Denominación de Origen Calificada (DOCa) – Denominação de Origem Qualificada, em tradução livre – do país, que a Tempranillo melhor se adaptou. A emblemática cepa domina cerca de 85% da área de cultivo de uvas no território de La Rioja.

A variedade também não demorou a se tornar a mais popular nas regiões vizinhas de Ribera del Duero e Toro, onde ganhou nomes diferentes. “Quando falamos da uva Tempranillo é impossível não falar da Península Ibérica, principalmente da Espanha, onde também é conhecida como: Tinto Fino, Tinta del País, Tinta de Toro, Cencibel, etc.”, explica Luiz Roberto Correa Lima, sommelier do BigLar.

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Uva de vários nomes

A curiosidade acerca do nome da Tempranillo tem a ver com sua característica de maturação acelerada, como explica o sommelier do BigLar. “O nome Tempranillo, na Espanha, se origina da palavra “temprano” que significa cedo em português. Isso se deve pelo fato da  Tempranillo ser uma casta precoce no brotamento, no amadurecimento e no crescimento”, diz Luiz Roberto.

Apesar de ser considerada uma uva icônica para o vinho espanhol, ela logo se espalhou pelos parreirais de outros cantos do mundo, ganhando novas denominações. Ela é chamada de Tinta Roriz, na região do Douro, em Portugal, e de Aragonés, no Alentejo, além de ser a Negretto, na Itália, e a Valdepeñas, nos Estados Unidos.

Essa diversidade de lugares e, consequentemente, de designações, se deve ao fato dessa ser uma uva versátil, de cachos compactos, cilíndricos e de tamanho médio, com frutos de casca grossa e tonalidade escura, o que permite que ela se adapte em diferentes tipos de terroir. Os solos mais propícios para o cultivo são aqueles que possuem uma composição pedregosa, de minerais graníticos e argilosos, com escassa quantidade de matéria orgânica.

Além dos países já citados, a Tempranillo tem forte presença nos vinhedos da Argentina, Chile, Austrália e África do Sul. No Brasil, a casta vem sendo plantada em regiões do Rio Grande do Sul, em cidades como Candiota (Campanha Gaúcha), Encruzilhada do Sul (Serra do Sudeste) e Bento Gonçalves (Serra Gaúcha).

 

Dos encorpados aos leves

Os vinhos produzido com a Tempranillo  apresentam  acidez equilibrada, teor alcoólico de nível médio/alto (com variação entre 10% e 13%), textura macia e com taninos marcantes e elegantes, com forte presença de frutas vermelhas e especiarias picantes. Quando passam pela maturação, em barricas de carvalho, tendem a desenvolver notas de caramelo, baunilha, couro e frutas secas.

Essa casta tem como característica o fácil desenvolvimento em locais com distintas altitudes e condições climáticas. Se o cultivo for feito em regiões altas e frias, o rótulo trará um pouco mais de acidez e corpo, enquanto em locais mais quentes, com chuvas escassas (ela não necessita de muita água) e altas taxas de insolação, haverá uma riqueza de aromas e maior leveza.

“A Tempranillo ora produz vinhos encorpados e estruturados, com passagem por madeira, longevos, e ora produz vinhos leves, macios e frutados. Essa é uma cepa muito usada também em vinhos de corte, ou ‘blends’, por ajudar no desenvolvimento da estrutura e maciez da bebida, deixando-a mais aveludada e elegante”, explica o sommelier Luiz Roberto.

Harmonia no prato

Buscar o equilíbrio é um dos segredos na harmonização da Tempranillo. Em primeiro lugar, essa sintonia entre bebida e prato é necessária por causa da intensidade da uva. Em segundo lugar, para acertar na harmonização, é preciso levar em consideração a idade do rótulo. Vinhos mais jovens devem ser combinados com receitas mais leves e frescas, enquanto exemplares com mais tempo de maturação, como acontecem com os de La Rioja, podem combinar com pratos condimentados e de sabor intenso.

Uma dica interessante é “espanholizar” esse encontro enogastronômico unindo um rótulo riojano com um dos pratos mais tradicionais do país, o jamón ibérico, o presunto cru que é um tesouro gastronômico da Península Ibérica. Outras alternativas são carnes como filé mignon e costela ao bafo, massas ao molho sugo e ao molho pesto, risoto de tomate seco, e alguns queijos, entre eles: o brie, gruyere e do tipo meia-cura, como o manchego.

queijos e vinhos