O vinho branco Chablis é produzido exclusivamente na cidade francesa de mesmo nome e com a uva Chardonnay
É fato que a França carrega uma posição privilegiada dentro do mundo vitivinícola. O país tem alguns dos rótulos mais destacados dentro da comunidade internacional, resultado de séculos de trabalho e conhecimento. As regiões produtoras de vinho são muitas no país europeu, com grande variedade de climas e características geográficas, sendo a maioria reconhecida pela qualidade das bebidas, como Bordeaux e Champagne.
Outra região de prestígio no segmento enológico, a Borgonha (Bourgogne, em francês), situada no centro-leste, produz alguns dos vinhos mais cobiçados do país. É na pequenina Chablis, no norte borgonhês e a apenas uma hora de viagem de Paris, que é elaborado o vinho branco Chablis, feito 100% com a Chardonnay, uma uva amplamente usada no mundo inteiro, mas que nessa comuna francesa de pouco mais de 2,3 mil habitantes, é exclusiva e soberana.
As primeiras videiras de Chardonnay foram plantadas na região por monges cistercienses, por volta do século XII. Nos séculos seguintes, com a incorporação de Chablis pela Borgonha, a produção cresceu e os vinhos começaram a ser exportados para outros lugares da França e para países vizinhos, como a Bélgica e a Grã-Bretanha.
Essa crescente foi afetada durante a segunda metade do século XIX pelo ataque da praga Filoxera, que reduziu de 40 mil para apenas 500 hectares de vinhedos, algo que só foi recuperado na década de 1930, com a instituição da Apelação de Origem Controlada (AOC) de Chablis, que definiu a uva Chardonnay como a única variedade permitida e implementou critérios de qualidade.
Toques de mineralidade
Quando um especialista, ao analisar um vinho, percebe tons de mineralidade em seu sabor, significa que a bebida em algum momento apresenta características gustativas que sugestionam algo salgado/terroso, o que é considerado um sinal de refinamento e complexidade. Essa particularidade é intensamente sentida nas uvas Chardonnay que dão o tom de elegância ao vinho Chablis.
Sommelier do BigLar, Luiz Roberto Corrêa Lima explica que a mineralidade, no caso da Chardonnay, tem como gênese o solo de argilo-calcário do terroir de clima frio de Chablis, conhecido como argila Kimmeridgian. “Naquela região, existia um mar na Era Jurássica, o que faz o solo possuir resíduos de conchas e ostras marinhas que influenciam na mineralidade e no toque metalizado intrínsecos aos vinhos Chablis, com seus aromas de frutas brancas com caroços, frutas cítricas frescas, florais, amêndoas e mineral”, explica Luiz Roberto.
“Quanto aos Chardonnays elaborados ao redor do mundo, principalmente os que chegam ao Brasil oriundos da Argentina, Chile, EUA e Austrália, tendem a ser menos mineral, as notas aromáticas são menos cítricas, predominam as frutas tropicais e o uso da madeira é mais comum, conferindo aos vinhos notas abaunilhadas e amanteigadas”, continua o sommelier do BigLar.
como harmonizar
O Chablis é um vinho versátil e combina com quase tudo, mas cada uma das classificações apresenta combinações enogastronômicas distintas. Os Grand Crus, por exemplo, ganham maior vitalidade e equilíbrio quando combinados com lagostas e queijos de casca lavada, como reblochon ou taleggio. Já as taças do Premier Cru ganham maior sabor com risotos, frutos do mar e pratos da culinária japonesa. Na parte dos queijos, o de cabra é a alternativa mais compatível.
Na combinação com os Chablis de estrutura mais simples, de grande frescor e leveza, os petiscos fritos ganham a preferência, como croquetes de queijo e mexilhões com batata frita (moules frites). Pratos com ostras e camarões também devem fazer parte da lista de combinações. Uma dica é o Spaghetti alle vongole, tradicional na região da Campania, na Itália, preparado com um mix de frutos do mar.
Classificação dos vinhos Chablis
A denominação Chablis está compreendida dentro de quatro classificações: Petit Chablis, Chablis AOC, Premier Cru e Grand Cru. Em cada uma delas há características distintas, devido aos microclimas e aos terresnos da região. Apesar do solo argiloso dominar em Chablis, também há presença do terreno Portlandiano, de calcário mais duro e sem muitos resquícios de fósseis marinhos. “Desse solo saem os vinhos mais simples de Chablis”, explica Luiz Roberto. Conheça a seguir as diferenças entre as classificações:
Petit Chablis: essa classificação de denominação Chablis tem a produção voltada para os vinhedos de áreas que cercam a cidade. Considerados de estrutura mais simples, eles são produzidos em solo Portlandiano, “não passam por madeira e apresentam notas cítricas”, diz o sommelier;
Chablis AOC: de qualidade superior e com a produção mais extensa em relação a hectares plantados, essa categoria tem seus vinhedos entre os dois tipos de solo. “São vinhos mais complexos, que apresentam notas mais estruturadas, de frutas com caroço como o pêssego, principalmente os provenientes dos solos Kimmeridgiano que possuem mais mineralidade, característica principal de um bom Chablis”, acrescenta.
Chablis Premier Cru: segundo lugar na classificação relacionada à qualidade, essa categoria é exclusivamente produzida no solo argiloso. A maior exposição ao sol resulta em uma maturação maior da fruta, que converge em uma bebida mais cítrica e com corpo mais maduro. Os vinhedos são identificados de forma mais prestigiosa nos rótulos, explica o sommelier, destacando nomes como: Fourchaume, Vaillone e Montèe de Tonnerre;
Chablis Grand Cru: a mais alta classe dos Chablis, com rótulos feitos a partir de produções pequenas e exclusivas. São sete vinhedos que fazem o Grand Cru de Chablis, e eles estão situados em uma área total de 100 hectares, com o solo 100% Kimmeridgiano, em uma das encostas ao norte da cidade. “Os vinhos podem variar de acordo com o microterroir ou de produtor para produtor. Aqui temos bebidas que apresentam frutas maduras, com bastante mineralidade e com passagem por madeira”, aponta o sommelier do BigLar.
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1 – Chablis Appellation d`Origine Cõntrolée
2 – Chablis 1Er Cru Grande Cuvée
3 – Chablis Fourchaume Premier Cru