Nativa da região central da Itália, a uva Sangiovese se perpetuou mundo afora graças à qualidade de vinhos como o Chianti e o Brunello di Montalcino
Em meio a paisagens naturais deslumbrantes formadas por colinas verdes a perder de vista e cidades medievais, a encantadora Toscana, no centro da Itália, é o berço de uma pedra preciosa da vinicultura do país. Apelidada de a “Joia da Toscana”, a uva Sangiovese – nome que vem do latim e quer dizer “sangue de Júpiter” (sanguis Jovis) – marca presença em milhares de hectares nos vinhedos das vinícolas toscanas. Essa variedade ocupa 11% da área vitivinícola na Itália, sendo produzida de norte a sul do país, o que a faz ser a mais cultivada pelos produtores italianos.
Mas mesmo havendo grandes áreas de plantações dessa variedade de uva em regiões como a Umbria, na zona central da Itália, e em Campania, no sudeste do país, a história da Sangiovese está intimamente ligada à Toscana. Historiadores indicam que a uva já era cultivada pela civilização etrusca, que habitava a área no primeiro milênio antes de Cristo. Posteriormente, o fruto também fez parte da vinificação romana.
Na era moderna, as primeiras informações datam do século XVI, quando o agrônomo italiano Giovan Vettorio Soderini mencionou a uva em seus escritos, a chamando de “Sangiocheto ou Sangioveto”. Ele a celebrava por ser uma videira notável, de produtividade regular e responsável por gerar um vinho muito bom. A utilização de técnicas de passagem por barrica e a mistura com uvas de fora da Itália, como a Cabernet Sauvignon, modernizaram a vinificação das bebidas que tem como base a Sangiovese na década de 1970 e, desde então, Chianti, Brunello di Montalcino, Supertoscanos, Nobile di Montepulciano e Carmignano tornaram-se bebidas de alto prestígio internacional.
Principais vinhos
Cultivada em 18 regiões e 70 províncias, a Sangiovese dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Veja quais são os principais DOCGs (Denominação de origem controlada e garantida) da “joia da Toscana”:
• Brunello di Montalcino: produzido exclusivamente na região de Montalcino, é feito 100% com a variedade Sangiovese Grosso, resultando em vinhos encorpados;
• Chianti: um dos vinhos mais famosos da Itália, originário da região de Chianti, em sua versão mais tradicional leva ao menos 80% de Sangiovese;
• Nobile di Montepulciano: produzido na cidade de Montepulciano, é estruturado e equilibrado, feito com pelo menos 70% de Sangiovese (chamada de Prugnolo Gentile);
• Supertoscanos: vinhos premium da Toscana que podem misturar Sangiovese com uvas internacionais, como Cabernet Sauvignon e Merlot, são considerados “fora da lei”;
• Carmignano: uma das denominações mais antigas da Itália, perto de Florença, mistura Sangiovese (mínimo de 50%) com Cabernet Sauvignon ou Cabernet Franc.
Adaptabilidade e longevidade
Sommelier do BigLar, Lucas Batista da Silva explica que a família de uvas Sangiovese é definida por um grande número de variedades, tendo ao longo dos séculos se adaptado em diferentes territórios. Segundo ele, existem mais de cem clones desta uva, conhecida pela cor rubi intensa e cachos bem carregados. “De colheita tardia, entre a segunda quinzena de setembro até meados de outubro, essa uva possui boa adaptabilidade e produção abundante. Atualmente, produz vinhos extremamente finos e de grande longevidade, mas ela também pode ser cultivada para vinhos de uso diário”, afirma o especialista.
Os vinhos que têm como base a Sangiovese são bastante alcoólicos, concentrados e capazes de amadurecer ao longo do tempo. Neles, predominam aromas primários de frutos vermelhos e pretos, como: ameixa, morango, cereja e amora, aos quais se podem juntar aqueles provenientes da madeira em que estagiou, assim como baunilha, café e tabaco. “A acidez bastante acentuada e a textura tânica, com um espectro olfativo floral entre os mais refinados, constituem a espinha dorsal desta vibrante e delicada joia da natureza”, destaca Lucas.
Os vinhos toscanos feitos com Sangiovese também são carregados de especiarias, como: canela, noz-moscada, cravo, e recebem notas terrosas de argila e minerais v no solo da região. E apesar de ser uma uva essencialmente italiana, ela também é cultivada na Argentina, Austrália e Estados Unidos.
“As versões não italianas podem ser mais acessíveis e fáceis de beber, enquanto os rótulos italianos são mais complexos e adequados para os apreciadores de vinhos mais experientes”, explica o sommelier.
“De colheita tardia, entre a segunda quinzena de setembro até meados de outubro, essa uva possui boa adaptabilidade e produção abundante. Atualmente, produz vinhos extremamente finos e de grande longevidade, mas ela também pode ser cultivada para vinhos de uso diário”
Lucas Batista da Silva, sommelier
Das massas à culinária regional
A harmonização mais comum associada à uva Sangiovese é com a própria culinária italiana, especialmente com massas ao molho vermelho. Os vinhos têm intensidade e acidez equivalente a esse tipo de prato e costumam gerar uma ótima similaridade. O destaque fica para lasanha, macarrão ao sugo, nhoque e pizzas, de preferência a clássica margherita, com bastante queijo. Para rótulos mais encorpados e intensos, como os brunellos, o ideal é investir em risotos, ragus ou pratos à base de carnes vermelhas magras.
Em busca da valorização da culinária mato-grossense, o sommelier Lucas Batista coloca à mesa pratos como costelinha suína frita com arroz, “em que se pode abusar do tomate picado e da cebola e, com certeza, um bom Chianti seria um par perfeito para essa iguaria”, indica. Outra opção também regional é o tradicional arroz carreteiro, prato feito com o aproveitamento das sobras de carnes grelhadas do churrasco, acompanhadas na panela com muito tomate, pimentão, cebola e alho. “É uma comida muito consumida por aqui, e uma ótima combinação é com um Rosso di Montalcino”, completa o sommelier do BigLar.
Você encontra no BigLar
• 1 Chianti DOCG Sant’Ilario 2021
• 2 Governo di Castellare Toscana IGT 2018
• 3 Chianti Clássico DOCG Casalino 2022
• 4 Rosso di Montalcino DOC Il Poggione 2020
• 5 Chianti Clássico Riserva DOCG Castellare Il Poggiale 2017
• 6 Brunello di Montalcino DOCG Casalino 2018