Criadores da pizza napolitana, espaguete, bife à milanesa e outros pratos que se espalharam pelo mundo, os italianos apreciam a arte de “mangiare bene”

As massas, os queijos, as carnes e os vinhos são os elementos centrais na clássica culinária da Itália, uma paixão que vai muito além da Velha Bota e influencia a gastronomia de dezenas de países onde os imigrantes italianos se espalharam, entre eles o Brasil. Costumes como se deliciar com uma bela macarronada da “nona” no almoço de domingo com a família, comer aquela rodada de pizza com os amigos ou saborear o bom e velho panetone nas festas de fim de ano são provas de que a cozinha italiana desembarcou por aqui e segue atravessando gerações.

Esses ingredientes e muitos outros são responsáveis por fazerem da autêntica “buona távola” (boa mesa) italiana extremamente diversa, com iguarias que simbolizam os traços culturais e geográficos de cada região. Afinal, quem mora à beira do Mar Mediterrâneo não tem acesso aos mesmos itens dos moradores do norte do país e, desse modo, cria-se essa cozinha fascinante e que é a mais admirada mundialmente, de acordo com o guia global de culinária TasteAtlas.

Ao levar ao pé da letra o lema “mangia che te fa bene” (em português, “come que te faz bem”), os italianos oferecem experiências únicas e saborosas em “ristorantis”, “trattorias”, “osterias”, “pizzerias”, “caffès” e todo e qualquer lugar que sirva pratos preparados para quem ama essa “cucina” irresistível e com tanta história. Buon appetito!

Bisteca alla fiorentina

A autêntica pizza napolitana

Sem dúvida que a Itália é a terra da pizza, e os italianos têm o dom da originalidade quando o assunto é preparar a apetitosa massa arredondada e plana. E a certidão de nascimento dessa iguaria tem lugar: Nápoles, capital da região da Campania, no sul da Itália. Declarada como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco, a origem da pizza napolitana moderna remonta ao fim do século XVIII.

Ao contrário das versões das pizzarias brasileiras, a pizza napolitana autêntica leva pouco recheio e seu preparo tem algumas regras inegociáveis. Segundo a Associazione Verace Pizza Napoletana (AVPN), que visa a preservar a autenticidade do prato, a massa precisa levar sal marinho e farinha de trigo de alta qualidade, além de ser aberta à mão e assada em forno a lenha.

A Associação reconhece a existência de apenas dois tipos de pizza. A mais simples é a marinara, que leva molho de tomate, óleo, orégano, manjericão e alho, sem nenhum tipo de queijo. Enquanto isso, a margherita é um pouco mais “elaborada”, com tomate, muçarela de búfala, parmesão ralado e manjericão, representando as cores vermelha, branca e verde da bandeira italiana, e criada em homenagem à visita da rainha Margherita de Savoy a Nápoles.

Hoje em dia, a pizza napolitana oficial é encontrada em mais de oito mil pizzarias nas cidades da província, inclusive naquela que é considerada a primeira, a Antica Pizzeria Port’Alba, localizada no centro histórico da cidade napolitana e fundada em 1738. Uma curiosidade é que os fornos da pizzaria são revestidos com pedra de lava do vulcão Vesúvio.

Bife à milanesa

Quem tem boca aprova Roma

Pouco importa se a versão correta da frase é a que “vai” ou “vaia”, uma certeza é que “em Roma, faça como os romanos” e tenha boca para provar algumas das legítimas iguarias italianas. Principal centro urbano da região do Lazio e capital do país, Roma detém alguns símbolos da culinária regional, sendo um dos mais famosos a bruschetta.

Servido como entrada, esse aperitivo trata-se de um pão torrado com recheio de cubos de tomate fresco, manjericão, alho, queijo parmesão e presunto de Parma. O surgimento desse pequeno tira-gosto, acredita-se, vem de antes de Cristo entre os camponeses romanos, que aproveitavam as sobras de pão do dia anterior, uma vez que a pobreza no campo não permitia desperdícios. Já o nome vem da palavra “brusciato”, que significa tostado.

A massa também está presente na culinária do povo da Cidade Eterna. Foi nas trattorias e tavernas de Roma que nasceu o tradicional espaguete à carbonara.  A receita original usa, além da pasta, apenas queijo, pimenta e ovos, com versões recentes que aceitam a inclusão de carne suína, em formato de bacon, panceta ou guanciale (bochecha de porco). Outras massas longas, como tagliatelle, fettuccine e pappardelle, e curtas, como o rigatoni também funcionam bem no prato.

Lasanha ao pesto genovês

Os clássicos da Lombardia

Segunda maior cidade italiana com 1,4 milhão de habitantes, Milão está no centro da Lombardia, no norte do país. Se no futebol o “Derby Della Madonnina”, que coloca frente a frente Milan e Internazionale, é o clássico da região, na boa mesa, o bife à milanesa é quem vence o jogo. A saborosa carne de vitelo é feita empanada e frita, e depois servida com batatas de acompanhamento.

Outra iguaria da região e que também foi integrada às cozinhas brasileiras, são os risotos. Um prato cremoso e envolto em lendas e histórias, o “pequeno arroz” tem receitas amadas pelos milaneses, como o risotto allo zafferano, feito com açafrão e de coloração amarela, para desejar riqueza e prosperidade. No Brasil, o risoto ganhou variações e adaptações, com grande protagonismo nos lares e restaurantes.

A Lombardia criou e o mundo abraçou outras duas delícias imperdíveis. Uma delas é o gorgonzola, queijo com uma textura macia e de sabor levemente adocicado, elaborado inicialmente em cavernas frias na pequena vila de Gorgonzola, perto de Milão. Também muito apreciado, o ossobuco é um corte de carne retirado da perna traseira do boi. Popular na região por ser ótimo para os dias frios, com o tempo ganhou toques de requinte.

Lagosta à moda da Sardenha

O genuíno sabor da Toscana

Região na faixa central da Itália, onde estão belíssimas cidades como: Florença, Pisa, Siena e Livorno, a Toscana é autoridade quando o assunto é vinho. Por lá são plantadas uvas que produzem bebidas de primeiro escalão, especialmente na região de Chianti, próximo a Florença, onde se produz o vinho de mesmo nome. O Sangiovese, outro vinho amado pelos italianos, e muito importante para a vinicultura do país, também é toscano.

Entre os pratos tradicionais destaca-se a bisteca alla fiorentina, carne que contém o contrafilé e o filé mignon bovino, preparada na brasa ou grelhada. Outra carne adorada pelos toscanos é a de javali, presente em salames e em receitas como o Cinghiale in Úmido (ensopado de javali). Variedades incríveis de carnes, presuntos, queijos e vinhos podem ser apreciadas no charmoso e histórico Mercato Centrale, em Florença, em um passeio gastronômico para se aprofundar genuinamente na gastronomia da Toscana.

Abre itália

As delícias que vêm do mar

Pela localização, no meio do Mediterrâneo entre a Europa e o norte da África, a ilha da Sardenha prima por influências vizinhas. Um exemplo é a lagosta à moda da Sardenha, influência da cozinha da espanhola Catalunha. Já as fregolas com frutos do mar lembram o cuscuz marroquino. No cardápio sardenho, também há pratos sem peixe, como a massa recheada chamada culurgiones, e a zuppa gallurese, uma mistura de fatias de pão, queijo e caldo de cordeiro, assados no forno.

Mais próximo da costa continental está a maior ilha do Mediterrâneo, a Sicília. Os milhões de turistas que visitam a capital regional Palermo, os templos e os vulcões inativos espalhados pela ilha, também aproveitam para se esbaldar em pratos típicos. O mais conhecido dos brasileiros é a caponata, um antepasto à base de berinjelas, alcaparras, aipo e azeitonas. Já na área das massas, a pasta alla norma e a pasta con acciughe e mollica são as iguarias sicilianas mais tradicionais.