Com lugar cativo na mesa dos brasileiros‘ o queridíssimo pão francês é o principal produto de qualquer padaria no país há mais de um século
Pão francês, pão de sal, cacetinho ou pão jacó. Os nomes podem variar de acordo com cada região do Brasil, mas o que não muda é a sua popularidade. Segundo uma pesquisa do Instituto de Desenvolvimento das Empresas de Alimentação, o produto representa 1 em cada 3 itens panificados vendidos no país, contribuindo em R$ 12,4 bilhões no faturamento nacional das padarias. Outro dado relevante é que os brasileiros consomem cerca de 2,35 milhões de toneladas anualmente do pão francês.
Apesar do nome sugerir que ele foi criado no país europeu, a sua origem é na verdade brasileira. Essa história tem início no século XVIII, quando o pão mais consumido na França era o pão escuro, apelidado de “pão do povo”. Já o pão feito de farinha branca, por outro lado, era um privilégio da nobreza e alta burguesia. Porém, a partir do século XIX, houve uma reviravolta, com a farinha branca se tornando popular. Com isso, surgiu a icônica baguete, com sua casca dourada e crocante, e miolo macio.
Nesse período, a elite brasileira que viajava pela França se encantou pela baguete e desejava replicar essa receita no Brasil. O desafio, no entanto, era grande. Muitos tentaram trazer a baguete de volta de suas viagens de navio, mas o pão sempre chegava seco ou mofado. A alternativa foi compartilhar memórias e experiências com os padeiros locais, predominantemente portugueses naquela época.
Em meio às tentativas de adaptação, surgiu a receita que se tornou a identidade brasileira. A baguete deixou de ser um pão comprido para ganhar um formato menor e mais arredondado. Embora tenha surgido no período colonial, o pão francês só se tornou popular em meados da década de 1910. Nesse período, a farinha branca se tornou mais acessível e o Estado de São Paulo ganhou dois moinhos: o Matarazzo, na capital, e o Santista, em Santos. A partir deles, os pães começaram a ser distribuídos em todo o Brasil.
O fato de ser um pão mais viável para o bolso, tornou o pão francês extremamente popular. A fama do produto é tão grande, que ele ganhou o seu próprio dia no calendário: 21 de março, o Dia do Pão Francês.
Diferenças regionais
Em geral, o pão francês leva farinha de trigo, água, fermento, sal, açúcar e gordura vegetal (principalmente margarina). Ao deixá-lo no forno, ele deve ter, em média, 50 gramas. Porém, em um país de tamanho continental como o Brasil, é inevitável não ter variações na receita e, inclusive, na forma de se referir a ele.
O nome pão francês, por exemplo, é o mais utilizado na região Sudeste e Centro-Oeste. Historiadores divergem sobre a real origem dessa nomenclatura. Alguns acreditam que o pão ganhou esse nome devido à tentativa de imitar a baguete francesa. Outra teoria afirma que o nome pão francês se deve ao fato da farinha branca utilizada na produção ser importada da França. Há ainda uma teoria que sugere que a nomenclatura ocorreu porque muitos padeiros franceses se mudaram para o Brasil a convite da Família Real Portuguesa.
Em algumas regiões de São Paulo, o pão é simplesmente conhecido como pãozinho, por ser menor do que outros tipos de pães. Em Minas Gerais e na Bahia, ele é referido como pão de sal. Já os sergipanos chamam de pão jacó. Isso se deve ao fato de uma famosa padaria em Aracaju ter um padeiro chamado Jacó, conhecido por fazer os pães mais procurados daquela região, o que fez com que o pão fosse chamado pelo nome dele.
O Rio Grande do Sul possui uma das alcunhas mais curiosas: o cacetinho. Segundo historiadores, a baguete gaúcha era conhecida por ter uma formato mais cilíndrico, sendo semelhante ao formato de um bastão, pedaço de pau ou cassetete. Como o pão francês parecia uma versão menor da baguete, acabou sendo apelidado de cacetinho. Outros nomes que são utilizados pelo país são carioquinha, pão de água e pão filão.
Diversidade culinária
Quando se fala em consumo do pão francês, a primeira iniciativa é recheá-lo com manteiga, presunto, mortadela ou muçarela enquanto aprecia o café da manhã. Porém ele pode ser degustado de outras formas.
Uma delas é o pão na chapa. Isso envolve dividir o produto em duas fatias, espalhar manteiga na parte debaixo e colocar em uma frigideira. Já para quem gosta de churrasco, é possível utilizar os pães franceses para preparar os tradicionais pães de alho. Para isso, basta cortá-lo em rodelas e passar uma mistura de maionese, alho, orégano, cheiro-verde, sal e pimenta antes de levar para a churrasqueira.
O pão francês ainda pode ser utilizado na produção de torradas, farofa, rabanadas, nhoque de pão e bruschetta. Além disso, também pode virar opção para o preparo de sobremesas como o bolo de pão francês (batido em conjunto com ovos, açúcar, manteiga e leite no liquidificador e assado por 30 minutos no forno) e o pudim de pão, para quem busca uma refeição gelada.
Preferência nacional
O pão francês lidera com folga na preferência dos brasileiros. Segundo o Instituto de Desenvolvimento das Empresas de Alimentação, ele é o favorito de 34% dos brasileiros. Na sequência aparecem os pães macios e artesanais (18%), pães de queijo (7%), pães crocantes (3,3%) e croissants e folhados (0,9%). O levantamento ainda destaca o pão de leite, pão sovado e o sonho.